segunda-feira, abril 24, 2006

Homenagem a Catalunha

Os prédios de Gaudí sao lindos e sempre surpreendentes. Miró era um grande pintor. Barcelona é uma cidade pulsante. Mas tudo isso você já sabe porque conhece Barcelona ou porque leu sobre a cidade. Eu nao vou ficar chovendo no molhado. Em vez de dizer como a arquitetura de Gaudí é brilhante - e eu acho que realmente é -, vou contar aos nossos 3,5 leitores o que notei de diferente em Barcelona desta vez.
1. Além de ter uma sonoridade parecida com o português de Portugal, o catalao tambem mostra uma semelhanca improvável com o mussumês. Sim, eu me refiro ao dialeto criado pelo Mussum. Tudo o que eu leio em catalao me lembra o homem que descobriu o forévis. Eu saio na rua e me deparo com palavras como tabacs, estudis, calçats, socis. E se em vez de ter sido um homem de poucas letras o falecido parceiro do Didi foi alfabetizado em catalao? Isso talvez explique seu modo particular de pronunciar as palavras. Eu sei que é improvável, mas me seduz a idéia de um Mussum filho de um catalao comunista exilado no Brasil com uma negra brasileira.
2. O mullet faz um sucesso danado por aqui. Barcelona parece uma sucursal capilar de Buenos Aires. Quase todos os homens cultivam um cabelo comprido. Muito em voga também o visual Chitaozinho, para homens e mulheres.
3. As catalas nao sao especialmente bonitas nem especialmente feias, mas todas sao peruas. Boa parte das mulheres é adepta do visual puta involuntária: mini-saia curta, botas longas e pintura pesada, mesmo antes do almoço.
4. Os barceloneses sabem andar de metrô. Para mim, esse é um dos indicadores mais importantes de civilidade de um povo. Antes de tentar entrar no trem, as pessoas esperam calmamente a saída de quem está dentro do vagao. Em Sao Paulo, o metro existe há mais de 20 anos, mas o paulistano ainda nao aprendeu a fazer isso. Quando a porta se abre na estaçao da Sé, é um salve-se quem puder
PS: Escrevi em um teclado em que nao há til



sexta-feira, abril 21, 2006

Desapertem o cinto e salve-se quem puder II

O Oswaldo Montenegro é um caso curioso. Ele canta mal, compõe mal, se veste mal, tem um cabelo alisado por obra de uma escova ou chapinha, mas mantém uma legião de fãs. Por que alguém gosta do Oswaldo Montenegro? O sucesso dele é um mistério. Eu nunca cheguei à conclusão de quem é pior: se ele, Guilherme Arantes ou Gonzaguinha. Acho que o Gonzaguinha lidera na disputa pelo pior verso da MPB de todos os tempos: “a gente não está com a bunda exposta na janela para passar a mão nela”. Tem algum pior?



quinta-feira, abril 20, 2006

Medo de mulher III

É fácil. São lésbicas que não têm coragem de sair do armário no mundo muçulmano. Elas se matam na expectativa de que haja 72 virgens à sua espera. Mas parece que o Alcorão não é claro sobre esse ponto



Medo de mulher

Leio que o Irã teria um exército de homens-bomba para atacar alvos ocidentais caso o país seja bombardeado. Haveria 40 mil voluntários treinados para a nobre missão de matar inocentes. O número diz muito sobre a qualidade de vida no Irã.
Muita gente vê o homem-bomba como um fanático que se sacrifica por uma causa. De algum modo, o suicida seria um idealista. Que nada. Não há nada de idealista num sujeito que se mata acreditando que há 72 virgens à sua espera no Paraíso. O terrorista islâmico age movido por interesse próprio. É coisa de punheteiro que tem medo de mulher. Só alguém que não tem a mínima experiência acha que sexo com virgem é algo divino. Como disse Salman Rushdie, “os homens islâmicos morrem de medo de mulher, têm pavor da liberdade sexual das mulheres.” De fundamentalismo islâmico Salman Rushdie entende



segunda-feira, abril 17, 2006

Função sexual do teatro IV

Mas calma. Para compensar o fato de o Antunes ser um homme à femmes, nós temos o Zé Celso, que namora um ator de seu grupo. O Gerald Thomas, por sua vez, joga nos dois times. Traça todas as atrizes com quem trabalha, mas já disse, nesta entrevista ao Nomínimo, que o Hélio Oiticica o “comeu para caralho” quando ele tinha 13 anos. Mas ele não ficou daquele jeito por causa disso. Segundo Gerald, o relacionamento com o Hélio Oiticica não só não o perturbou como “quebrou um preconceito logo de cara e não tinha problema nenhum”. Não é bonito?



Função sexual do teatro II

Nem todos os diretores brasileiros são viados. O Antunes Filho, por incrível que pareça, tem fama de comedor



Minha experiência no mundo do teatro

Ao mencionar Gerald Thomas num post abaixo, eu me lembrei de que já fui namorado de atriz. Foi um período curioso. Eu rapidamente aprendi que gente de teatro não diz peça. O certo é espetáculo, mesmo que seja algo montado num espaço imundo, com atores de quinta categoria encenando um texto experimental de um dramaturgo desconhecido do interior do Piauí.
Eu gosto de teatro, antes que me entendam mal. Vi bons espetáculos com a minha ex-namorada. Mas a verdade é que assisti a coisas horrorosas. Talvez a pior de todas tenha sido Freud Anna, um espetáculo dançante sem diálogos baseado na relação entre o velho Sigmund e sua filha. Juro que não estou inventando. Tentei dormir, mas a música não deixou.
Foi nessa época que vi uma peça do Zé Celso (eu sei, eu sei, mas foi só uma vez) - Mistério Gozoso, de Oswald de Andrade. Poucas vezes assisti a algo tão amador. Os atores mal sabiam falar. E foi no Teatro Oficina, um dos piores espaços cênicos já construídos pelo ser humano. A encenação ocorre num corredor, e o público fica sentado nas laterais, como se estivesse numa arquibancada de campo de várzea. A grande virtude é que o espetáculo só tinha uma hora e meia, e não as cinco horas habituais das peças do diretor dionisíaco.
O pior eram as peças amadoras dos amigos dela, quase sempre experimentais. No começo, eu ficava encabulado, principalmente quando queriam saber o que eu tinha achado. Mas tudo ficou mais fácil quando o namorado de uma outra atriz me ensinou uma estratégia infalível: “Quando pedirem sua opinião, é fácil. Diga sempre: no gênero, nunca vi nada igual.” Grande frase: deixava o interlocutor feliz e não me obrigava a mentir. Afinal, que outra resposta melhor eu poderia dar para uma adaptação de Dom Casmurro com todo mundo nu? Para um Édipo Rei sem diálogos, usando a linguagem de quadrinhos? E para uma versão de Hamlet com o príncipe interpretado por um travesti? No gênero, nunca vi nada igual



quarta-feira, abril 12, 2006

Elogio ao Guia Genial III

Além de o salvamento da Varig ser um assalto aos cofres públicos, há outros motivos para condenar o resgate da empresa. Um deles - talvez o mais nobre - é que o Gerald Thomas é a favor. Ele organizou uma manifestação em que vários artistas brasileiros pediram que o governo ajude a companhia quebrada. Dessa vez, Gerald não mostrou a bunda, mas teve mais um chilique. “Quando o Lula fala que é a falência de uma companhia, ele está decretando a falência do próprio Brasil. Ele está decretando uma auto-falência. Lula, aqui para você”, disse o gênio, mostrando o dedo médio. Além de Gerald Thomas, participaram do protesto atores como Marco Nanini, Irene Ravache e Marieta Severo, a jogadora de vôlei Virna e o coreógrafo Carlinhos de Jesus. Fiquei curioso para saber a opinião da Virna e do Carlinhos de Jesus sobre o assunto, mas os jornais não os entrevistaram a respeito.
Mas por que tanta solidariedade à empresa? O blog de Gerald deixa claro os motivos da comunidade artística brasileira, sem nenhum subterfúgio: “Convoco todos os artistas (atores, atrizes, comediantes, bandas de rock, country e o diabo) que ‘mamaram’ na Varig por anos a fio através de patrocinio direto ou através de apoio que SE MANIFESTEM AGORA!!!! Nao sejam covardes! Agora é a hora! RETRIBUAM!”
Elementar, caro leitor: o que move os artistas é o medo de perder uma boquinha. Eis mais um motivo para torcer pelo fim da Varig. Quem sabe assim fica mais difícil para o Gerald Thomas montar suas peças?

PS: Eu vou confessar uma coisa: torço para que a crise da Varig chegue ao fim não tanto por acreditar que o governo não deve salvar empresa falida, mas principalmente porque o assunto sairia mais rapidamente do noticiário. A crise da Varig é o terceiro assunto mais chato de todos os tempos. Perde apenas para o caso Opportunity-Daniel Dantas-Brasil Telecom-fundos de pensão-Telecom Itália, que vem em segundo lugar, e para o descruzamento das participações acionárias da Vale do Rio Doce e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), o líder do ranking



Elogio ao Guia Genial

Eu estou emocionado. Lula está muito próximo de dar uma dentro. “Não é papel do governo salvar empresa falida”, disse ontem o Guia Genial, ao comentar os problemas da Varig. Capitalismo é assim. A empresa não consegue andar com as próprias pernas? Que arrume uma solução de mercado. A lei de falências está aí para permitir uma recuperação das companhias que quebraram. Pode ser que o governo dê para trás, mas, até o momento, parece que não haverá injeção de dinheiro público numa empresa que deve R$ 8 bilhões. Não ajudar a Varig será uma das maiores realizações de Lula, o que dá uma idéia do nível do governo



sábado, abril 08, 2006

Soy loco por ti, América

A América Latina não consegue resistir ao ridículo. A bola da vez é o Peru. O nacionalista Ollanta Humala deve vencer o primeiro turno das eleições presidenciais marcadas para amanhã. Amigo de Chávez, tem idéias modernas, como fica claro na entrevista concedida à revista alemã Der Spiegel e publicada ontem no Estado. Além de repetir palavras de ordem contra o neoliberalismo que talvez constrangessem os integrantes da UNE, Humala mostra que se prepara para conduzir o Peru ao século XIX: "Nós somos as vítimas de um capitalismo descontrolado. A concorrência das multinacionais está destruindo nossas indústrias, explorando nossos recursos e nos forçando a ser uma economia de exportação". Humala pode fazer um grupo de estudos com Chávez e Evo Morales para discutir As veias abertas da América Latina. Se já tiverem lançado uma versão ilustrada do livro, Lula também pode participar.
Mas o principal mesmo é o nome do sujeito. Como alguém pode votar em alguém que se chama Ollanta Humala? Para ficar ainda mais grotesco, um de seus irmãos atende por Antauro. Como disse o poeta chileno Hernando Persona: "todos os países da América Latina são ridículos. Não seriam países da América Latina se não fossem ridículos"



sexta-feira, abril 07, 2006

Miolo mole e crime II

Eu vou discorrer sobre o óbvio, porque a obviedade parece inacessível à maior parte dos brasileiros quando se trata de discutir a criminalidade.
Vamos supor que a desigualdade social seja realmente a principal causa do problema.
Vamos supor também que o Brasil comece a reduzir com muita rapidez a desigualdade social, encurtando fortemente a distância entre ricos e pobres.
Mas, mesmo nesse cenário otimista - e improvável -, o país vai demorar muito para atingir um quadro razoável em termos de desigualdade, já que, como até o asfalto da Vieira Souto sabe, o Brasil é muito desigual.
A conclusão óbvia? Enquanto nós não nos tornamos um país nórdico em distribuição de renda, é necessário combater os outros fatores que provocam a criminalidade. Tornar mais severas as punições para crimes hediondos é uma delas - e o Supremo Tribunal (STF) fez o oposto há algumas semanas, ao considerar inconstitucional que o condenado por esses crimes tenha que cumprir toda a pena em regime fechado. Atacar as outras causas do problema não é achar que ele não é complexo; é apenas não adotar a estratégia do miolo mole, como definiu o Arranhaponte. Mas, em vez de fazer óbvio, a gente não faz nada



terça-feira, abril 04, 2006

Pagando mico no espaço

Toda essa história do astronauta brasileiro me parece bastante ridícula. E, depois de descobrir que uma das experiências a serem realizadas pelo nosso herói é a germinação de sementes de feijão num ambiente sem gravidade, tudo ficou ainda mais grotesco. Será que ele colocou o feijão em cima de um algodãozinho molhado? É cretino, mas eu imagino o astronauta usando um daqueles conjuntos infantis tipo O pequeno químico para fazer experiências sofisticadas como o sangue do diabo. Brasileiro paga mico até no espaço.
E a missão me lembra aquelas piadas infames - além do brasileiro, há um americano e um russo. Eu já imaginei o começo da piada, aliás. Falta apenas o desfecho – ou seja, tudo: “Numa nave espacial, estão um astronauta brasileiro, um americano e um russo. A nave sofre uma pane, e dois astronautas terão que ser sacrificados para que a missão seja terminada. Os três chegam a um acordo: quem tiver o presidente mais esperto, se salva”. Putin, Bush e Lula me parecem talhados para fazer parte de uma piada. O diabo é que não consegui pensar num final, por mais infame que seja. Alguém tem alguma idéia?

PS: Quanto à importância da missão, assino embaixo o que escreveu o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão: “O vôo de Marcos Pontes é uma grande jogada eleitoreira do governo. Ela não irá contribuir em nada para reafirmar o programa espacial brasileiro. Pontes poderia ir ao espaço em 2009, de graça, sem pagar os US$ 10 milhões, se o Brasil tivesse cumprido o acordo de construir algumas peças para a ISS. É mais importante cumprir essa tarefa do que enviar um brasileiro ao espaço, pois ela irá gerar um desenvolvimento tecnológico no Brasil. Muito mais importante é destinar recursos para tornar realidade nosso programa espacial. Há mais de 10 anos, o nosso veículo lançador de satélites, o VLS, está sofrendo uma 'sabotagem governamental', pois as verbas foram reduzidas no fim do governo Sarney, que estabeleceu o acordo de colaboração espacial durante visita à China".



domingo, abril 02, 2006

Demagogia incompetente

As propostas da esquerda no Brasil são sempre divertidas. Na semana passada, PSOL e PSTU realizaram um encontro para discutir, vá lá, idéias. Eu só li a reportagem da Folha sobre o seminário hoje, reproduzida pelo FYI. Algumas das propostas são brilhantes. Uma das mais inteligentes é pedir que sejam classificados como crimes hediondos os assassinatos de pais e mães de santo que ocorrem pelo país. Outras idéias visam melhorar a educação no Brasil: adotar o estudo obrigatório da história da África e da cultura do povo afrodescendente no ensino fundamental e o fim do ensino pago.
Uma das que mais me chamaram a atenção foi o aumento do salário mínimo para R$ 1,6 mil. Eu gostei principalmente por mostrar a mediocridade dos esquerdinhas radicais. Todo mundo que não é débil mental sabe que é inviável um salário mínimo desse valor, porque a Previdência e os Estados e prefeituras pobres quebrariam. Se a idéia é sugerir um valor absurdo, por que R$ 1,6 mil, um salário meia boca? Inviável por inviável, por que não propor R$ 10 mil, R$ 20 mil ou R$ 30 mil? Mas não. A mediocridade não deixa. A esquerda é incompetente até mesmo para fazer demagogia



quinta-feira, março 30, 2006

Lula e a China

A visão de política comercial de Lula é invejável. Isso ficou óbvio mais uma vez ontem, em seu discurso na Fiesp. Disse o Guia Genial: “Eu fui criticado porque tomei a decisão de reconhecer a China como economia de mercado. E tomei essa decisão porque tenho consciência de que, ou nós colocamos a China no âmbito da OMC e passamos a envolvê-la nas discussões que faz o resto do mundo, ou nós deixamos a China de lado e ela vai ocupando os espaços que ocupa sem pedir licença”.
Muito esperto esse Lula, não é mesmo? A questão é que a China entrou na OMC em 2001, três anos antes de o Brasil reconhecê-la como economia de mercado. O curioso é que não é a primeira vez que ele comete esse erro. Ninguém o informa de que ele disse besteira? Se bem que, para quem acha Napoleão foi à China, essa não foi das piores.
O discurso de ontem foi muito divertido. Mas, como as pessoas só lêem algumas partes, têm uma idéia muito pálida do caos que é a cabeça do Guia Genial. Quem for masoquista e quiser ler a íntegra do pronunciamento na Fiesp, é só clicar aqui.
Falando a uma platéia de empresários italianos, Lula não os poupou de suas metáforas sofisticadas, num discurso cheio de dicas de auto-ajuda. Um dos meus trechos preferidos: “E a gente só consegue chegar a esse ponto se a gente pensar de forma positiva, se a gente acreditar que é possível, porque muitas vezes nós temos um prato de comida para comer, com tudo bem feito, tempero bom e, ao invés de agradecermos a Deus por aquele prato, a gente prefere ficar reclamando do que não tem no prato.” Isso é que é estadista



As maravilhas da televisão aberta

Eu já me decidi: vou cancelar a assinatura da TV a cabo. Em que canal pago eu assistiria a uma entrevista coletiva do Padre Pinto, como a que vi na semana passada, no programa da Luciana Gimenez? Quem não viu perdeu uma das grandes discussões de idéias da televisão brasileira. Padre Pinto (ser zecélsico, na definição de mestre Ruy Goiaba) foi colocado contra a parede (ops) por doutora Havanir, Núbia Óliiver (não é erro de digitação, esse é o nome artístico – ou profissional? - dela), um bispo evangélico e um outro sujeito desconhecido que me pareceu adepto da mesma orientação sexual do entrevistado.
Padre Pinto apareceu com o cabelo acaju, camiseta e tênis vermelhos e uma calça branca apertada. Ah, o homo-sacerdote também estava maquiado, com brinco na orelha esquerda e pulseiras que deixariam o Clóvis Bornay com inveja. Na maior parte do programa, Padre Pinto foi humilhado pela doutora Havanir e pelo bispo, que atacaram sem dó sua visão heterodoxa da Igreja Católica, sua proximidade com as afro-religiões como o candomblé e seu visual transformista. Mas Padre Pinto não se abalou. Sem perder o rebolado, confirmou sua simpatia pelos afrocultos, afirmou ser fã de Raul Seixas, classificou-se como maluco beleza e disse não ter beijado Caetano Veloso na boca.
Houve também discussões teológicas entre o Padre Pinto e o bispo evangélico. Nosso herói foi acusado pelo bispo de não seguir o único Deus verdadeiro e prestar homenagem ao Deus de outras religiões. Isso levou à intervenção da gostosa profissional Núbia Óliiver, que atuava em defesa de Padre Pinto com firmeza: “Mas peraí. Há apenas um Deus ou cada religião tem o seu Deus?”, questionou ela, de forma irônica. Núbia ainda defendeu o direito do Padre Pinto de fazer o que quiser, porque o importante é ajudar os outros. Quem quer assistir Seinfeld se pode ver um debate desse nível de graça?

PS: No programa de ontem, Alexandre Frota foi o entrevistado de Luciana Gimenez. Ele desmentiu que seja amigo da transexual Renata Finsk e que tenha tido um caso com ela. É ou não é o melhor programa da televisão brasileira?



domingo, março 26, 2006

Que legal a geléia geral II

Para gente como a dona Elke, mulher é sempre competente, negro é sempre lindo e gay é sempre sensível. A culpa de qualquer coisa costuma ser do branco heterossexual que estiver mais perto.
Para mudar esse quadro, está na hora de uma campanha publicitária para melhorar a imagem da categoria. Acho que, se receber uma grana boa, o Nizan Guanaes aceita a tarefa de mostrar ao mundo que há muito marmanjo boa gente que tem pouca melanina e não é caubói. Uma outra linha de campanha é dizer que nem toda mulher é competente, nem todo negro é bonzinho e nem todo gay é um artista talentoso. Mas é melhor não ir por esse caminho: o Conar acabaria vetando



quinta-feira, março 23, 2006

O sucesso não ocorre por acaso

Ter autocrítica não está com nada. Olhe à sua volta: o mundo é de quem tem auto-estima lá em cima. Sujeitos como o Lair Ribeiro estão certos. Essa história de que é importante ser cético e ter consciência das limitações apenas atrapalha a carreira.
Se fizesse uma análise ponderada e crítica de sua capacidade, Lula não tentaria nem ser síndico de prédio. Como Pelé e Gilberto Gil aceitaram ser ministros, mesmo sendo totalmente despreparados para o cargo? Só com muita auto-estima – ou sem nenhuma auto-crítica. E a Tati Quebra Barraco, como é que pode cantar? A mulher emite guinchos assustadores, é feia como o demônio e mesmo assim vira pop star. Vai ter auto-estima assim lá no inferno.
Por isso, eu já me decidi. Vou comprar todos os livros de auto-ajuda que eu encontrar pela frente. E, toda manhã, vou me olhar no espelho e dizer: Eu posso! Vou aceitar sem hesitações o próximo convite que eu receber para ser líder de um grupo de pagode



segunda-feira, março 20, 2006

Homenagem ao sexo frágil

É inevitável. Todo dia internacional da mulher (eu deveria usar maiúscula?) algum apresentador ou político aparece na televisão e diz: “Está na hora de o Brasil ser governado por uma mulher”. Em ano eleitoral, a frase pipoca em todo canto. Eu mesmo vi mais de um programa em que ela foi dita com entusiasmo. Quantas reportagens vocês leram, viram ou escutaram neste mês sobre mulheres competentes e bem sucedidas? Eu perdi a conta. Acho curioso que ninguém fale do oposto. É verdade que nenhuma mulher comandou o Brasil, mas muitas já chegaram a cargos importantes nos últimos anos, e várias tiveram desempenho catastrófico. Eu vou citar cinco.
A primeira é Zélia Cardoso de Mello. Além de ter sido uma das idealizadoras do confisco, teve um caso com Bernardo Cabral e casou com Chico Anísio – tudo bem, ela era jogo duro, mas o Chico Anísio?
A segunda? Marta Suplicy. Eleita como símbolo da modernidade do PT, fez um administração de inspiração malufista. Estourou as contas públicas e deu prioridade a obras discutíveis. Como desculpa para sua derrota, inventou a história de que foi vítima de preconceito. Ela esqueceu que os paulistanos elegeram uma nordestina em 1988, um político com folha corrida em 1992, um negro em 1996 e uma sexóloga (ela mesma) em 2000. Não colou.
A terceira é Benedita da Silva. Foi governadora do Rio e ministra, tendo como únicos méritos ser negra, mulher e favelada. Aos poucos, descobriu-se que era adepta do nepotismo e incompetente. Quando ministra, foi à Argentina para um encontro religioso com dinheiro do governo.
Depois, há Roseana Sarney. Quase foi candidata a presidente em 2002, quando a foto de uma pilha de dinheiro sem origem comprovada destruiu as pretensões da filha de um dos piores presidentes que o Brasil já teve. Governou o Maranhão, um dos Estados mais pobres do país, comandado por seu grupo político por séculos.
Por último, Rosinha Garotinho. Não tem o menor preparo para comandar uma padaria, mas foi eleita governadora do Rio por ser mulher de um político populista que usa a religião para conquistar votos. Colocou o marido em cargos-chave da administração, numa clara demonstração de que não manda nada.
Por isso, em vez de dizer que está na hora de o país ser governado por uma mulher, eu defendo uma idéia mais esquisita: está na hora de o país ser governado por alguém competente, honesto e com perfil de estadista. Pode ser homem, mulher ou transexual. Não é mais razoável?



sexta-feira, março 17, 2006

Aquele abraço

A crise no Rio de Janeiro é grave. Depois da seqüência Garotinho, Benedita e Rosinha, a esperança de boa parte da elite intelectual do Estado é que Gilberto Gil se candidate ao governo. Perto do populismo de Garotinho e Rosinha e da incompetência de Benedita, talvez Gil pareça um Churchill, mas convenhamos: se o pai de Preta Gil é realmente tido como o salvador da pátria, a situação do Rio é pior do que eu pensava. Na Folha de hoje, Nelson Motta escreve um artigo conclamando Gil a se lançar ao cargo, elogiando com entusiasmo sua gestão no ministério da Cultura.
Um sujeito que só aceita ser ministro se puder continuar a fazer shows deixa claro quais são suas prioridades. É ridículo que Lula tenha cedido ao seu apelo, e mais ridículo ainda que a imprensa não tenha caído de pau em cima dos dois por causa disso. Se for governador, Gil também vai se afastar o cargo por alguns dias para cantar suas músicas, ganhar uma grana extra e complementar o orçamento? E no carnaval ele irá para Salvador tocar no seu trio elétrico, sempre patrocinado por uma empresa privada?
Em resumo, a esperança da intelligentsia do Rio é um músico que não tem nenhum pudor em misturar o público e o privado. Bonito, não?



quinta-feira, março 16, 2006

O dragão da massa encefálica contra o santo guerreiro

A eleição deste ano promete. Lula e Alkckmin dão seguidas mostras de que estão à altura do Brasil. O Guia Genial, em resposta a um protesto do PSTU: "A nossa massa encefálica é mais inteligente do que vocês pensam". O picolé de chuchu, num momento TFP: "A pátria são as famílias, a religião, os costumes, a tradição". Eu mal posso esperar pela campanha. Não sei se vou conseguir acompanhar o nível da batalha de idéias que os dois vão travar



quarta-feira, março 15, 2006

Vigiar e punir

O Brasil é o país da avacalhação. Talvez seja isso o que define o brasileiro: a capacidade de avacalhar tudo e todos. Quer um exemplo? A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de considerar inconstitucional que os condenados por crime hediondo cumpram toda a pena em regime fechado. Com a medida do STF, o sujeito condenado por estupro, tráfico de drogas ou homicídio qualificado pode requerer a progressão de regime depois de ficar apenas um sexto da pena em cana. Sim, eu sei que cada caso será examinado por um juiz, o que, em tese, deve impedir que uma leva de criminosos perigosos ganhe a liberdade.
Mas eu sou cético quanto a isso. Não duvido que a combinação de um comportamento exemplar na cadeia e bon$ advogados seja suficiente para que um traficante assassino consiga facilmente o regime semiaberto.
Mas o ponto fundamental é outro: crimes graves merecem penas duras. Eu acredito no poder de dissuasão de uma punição severa. Há quem argumente que a lei dos crimes hediondos não ajudou a reduzir a criminalidade. Mas o problema não é a ineficácia de penas duras, e sim a impunidade elevada. No Brasil, uma parcela ridícula dos crimes é resolvida. Se a polícia fosse mais eficiente, uma parte maior dos criminosos iria para a cadeia e, se tivesse cometido um crime hediondo, ficaria mais tempo no xilindró. Com isso, se o risco de ser preso fosse maior e as penas fossem mais duras, o sujeito tenderia a pensar duas vezes antes de cometer um crime hediondo.
Ah, mas há muita gente presa no Brasil, afirma o senso comum. Os números, porém, não confirmam isso. As penitenciárias brasileiras são lotadas e desumanas, mas o país não tem muitos presos em termos relativos. Segundo o pesquisador Ib Teixeira, em 2002 o Brasil tinha 130 presos por 100 mil habitantes, enquanto o Canadá tinha 500 e a Noruega, 450. Em resumo, mesmo sendo bem menos violentos que o Brasil, os dois países têm proporcionalmente mais gente em cana.
Em artigo publicado hoje na Folha, o historiador Boris Fausto escreve que “é necessário encarar a punição por crimes graves principalmente como castigo, deixando em segundo plano a ressocialização utilitária e outros argumentos. Vista a questão sob esse ângulo, pouco importa que o rótulo de ‘crime hediondo’ permaneça ou não. Importa, sim, que praticantes de crimes de homicídio qualificado, latrocínio, extorsão mediante seqüestro, atentado violento ao pudor e outros mais cumpram integralmente suas penas em regime fechado.” Eu assino embaixo



sexta-feira, março 10, 2006

A vingança dos nerds

Ser bom aluno pega mal, pelo menos no Brasil (em outros países também é assim?) Tirar boas notas pode deixar a sua mãe orgulhosa, mas é uma das coisas com menos sex appeal que existem. Eu falo por experiência própria: fui um aluno brilhante até o colegial, e isso não facilitou em nada minha vida sexual - pelo contrário. Eu não era visto como nerd porque jogava futebol razoavelmente bem, o que permitia que eu tivesse outros amigos além dos gordinhos estudiosos de óculos. De qualquer modo, posso dizer que não era o mais popular da escola. O esforço intelectual não oferece muitas recompensas na infância e na adolescência, eis a verdade, meus amigos.
Tem gente que desiste de estudar a sério por causa dessa impopularidade. Eu conheci mais de um gordinho CDF que adotou o seguinte raciocínio: se eu tirar notas piores, provavelmente vou apanhar apenas porque sou gordo, e não porque sou gordo e bom aluno.
Para combater esse problema, seria importante que o cinema, por exemplo, mostrasse quem se dedica com afinco aos estudos de forma mais glamourosa. Uma sugestão é fazer um filme descaradamente inspirado nos Diários de motocicleta. Mas, em vez de uma viagem de moto pela América Latina, o protagonista empreenderia uma jornada pelos campi das universidades da Ivy league, devidamente acompanhado pelos pais. No percurso, o jovem nerd formaria suas convicções sobre o mundo e sobre si mesmo, terminando o filme feliz por ter se formado no colegial com média 9,88.
Outra idéia: num país em que estudar é desnecessário e o que dá dinheiro é ser jogador de futebol ou músico de pagode, alguns jovens que cultuam o conhecimento participam de intermináveis batalhas intelectuais. Em garagens subterrâneas, promovem torneios clandestinos, que se arrastam por dias, inspirados em programas de televisão como Quem sabe sabe e em jogos como Master - qualquer semelhança com O clube da luta não é mera coincidência.
Deixo essas sugestões no ar. Quem sabe algum ex-nerd bem sucedido no mercado financeiro não topa financiá-las?



Los pasionarios II

Você vai achar que eu sou pervertido, mas acompanho com interesse a disputa, por mais aborrecidos que sejam os dois. Pelo que eu li, fontes tucanas dizem que o candidato será Alckmin. Não quero dar uma de mãe Dinah, mas acho que, se essa decisão se confirmar, estará aberto o caminho para mais quatro anos do Guia Genial no poder

PS: Sabe uma coisa que desperta os meus mais baixos instintos? Jornalista que escreve "tucanato". Mas é possível piorar. Eu conheço um que fala "tucanato" em conversa de bar. Não vou dizer quem é, mas garanto que é um dos sujeitos mais chatos de todos os tempos



quinta-feira, março 09, 2006

Alçando o nível II

Intelectuais brasileiros (ou que vivem no Brasil, como o Contardo Calligaris) prezam a ilegibilidade. Eu não entendo como o sujeito não se sente ridículo ao escrever, como ele fez, que "num mundo higienista, a subjetividade é definida pelo corpo". Se estou numa conversa com amigos e alguém se expresssa desse modo, é impiedosamente sacaneado. Isso é o que falta a nossos intelectuais: um bando de amigos impiedosos, que não perdoe deslizes como esse. Às vezes, a zombaria física também ajuda, como o bom e velho tapa no pescoço ou um peteleco na orelha. Se tivesse colegas que o tratassem com ironia e não com reverência, o Contardo Calligaris não teria escrito uma merda dessas - e, se tivesse, teria tomado uns cascudos para aprender.
Quem também deveria ser sacaneada e apanhar de vez em quando é a Marilena Chauí, a santa padroeira do partido que rouba, mas não faz. Um de seus livros se chama "A nervura do real - imanência e liberdade em Espinosa", que consegue a façanha de ser ilegível desde o título. É uma proeza para poucos

PS: Depois de escrever este post, eu me lembrei desta coluna do Alexandre Soares Silva. Como diria um intelectual brasileiro, o meu texto é claramente tributário do que escreveu Alexandre, o que revela subrepticiamente os mistérios e armadilhas do inconsciente



terça-feira, março 07, 2006

Academia? Que nojo

Vocês viram o Oscar? Eu assisti. Foi brega e chato, mas eu sempre vejo até o fim. Como quase sempre, ganhou um filme meia boca. Dos cinco, Crash era o pior concorrente. Até a história dos caubóis que dão ré no quibe é melhor (para testar minha heterossexualidade, aliás, fui ver o filme sozinho, no Frei Caneca, e chorei no final. Algum problema? Vai encarar?) Mas voltando a Crash. O filme é divertido, não ofende a inteligência, mas não é nada demais. O roteiro exagera no cruzamento das várias histórias, e há um uso excessivo de “música dramática para emocionar o espectador”.
Mas eu não levo o Oscar a sério, fiquem tranqüilos. Como levar a sério um prêmio em que o melhor filme do ano não é nem indicado a melhor filme? É claro que estou falando de Ponto final, de Woody Allen, um filme adulto, que fala de assuntos adultos de uma maneira adulta. O filme trata com profundidade de questões como acaso e culpa, nunca de modo aborrecido. Os diálogos são impecáveis. É bom ou quase tão bom como Crimes e pecados. Ah, e tem a Scarlett Johansson. Parece que tem gente que não gosta dela, principalmente em Campinas, Pelotas e Brokeback Mountain. Eu não entendo, mas respeito quem não goste.
Em resumo, ganhou quem não merecia e quem merecia não foi indicado. Mas isso não é o maior problema do Oscar. O pior são os jornalistas e cinéfilos que falam “academia”. Eu não suporto. “Ai, será que dessa vez a academia vai ser ousada e premiar um filme corajoso e sensível como O segredo de Brokeback Mountain?” “Ai, a academia adora premiar atores ingleses”. “Ai, como será que a academia vai reagir ao neoconservadorismo da era Bush?” Quando eu ouço alguém falar assim, acreditem: eu fico com nojo



segunda-feira, março 06, 2006

Caetanos de batina

Bispo sempre tem ibope no Brasil. Qualquer declaração de integrante da CNBB ganha as manchetes. Na semana passada, o secretário-geral da entidade, dom Odilo Scherer, disse que o país se transformou num “paraíso financeiro”, numa referência ao nível dos juros, enquanto o arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, criticou a política econômica, ao comentar o resultado do PIB do ano passado. Há alguns meses, dom Luiz Cappio entrou em greve de fome contra a transposição do São Francisco. Em vez de ignorá-lo, o governo negociou com ele, cedendo à chantagem.
Triste do país em que opinião de bispo é levada a sério, ainda mais sobre um tema simples como economia. As idéias de dom Odilo sobre política monetária são tão relevantes quanto às do Palocci sobre a santíssima trindade. Em 2000, a CNBB fez um plebiscito sobre a conveniência de o país pagar a dívida externa, num momento em que a dívida externa não era um problema. Qualquer calouro do curso de Economia sabia disso, mas a entidade foi adiante com sua idéia ridícula.
No Brasil, os bispos são caetanos de batina. Eles não têm a menor idéia sobre o que estão falando, mas não se furtam a dar opiniões categóricas a respeito de tudo. Podiam se ocupar de coisas mais úteis, como punir os padres pedófilos. Mas isso é tão provável quanto acreditar que Caetano consegue dar entrevista sem dizer bobagens



domingo, março 05, 2006

Metamorfoses ambulantes e generalizadas II

A Economist tocou apenas de passagem no ponto central: Lula é sortudo. Poucas vezes na história do país houve um presidente com tanta sorte. É quase inacreditável como o cenário externo tem sido favorável desde que o Guia Genial assumiu. Há dinheiro sobrando no mercado internacional para países emergentes. Os preços do petróleo batem em US$ 70 o barril e não há crise. A economia americana tem um déficit externo de US$ 800 bilhões por ano, mas não há sinal de ruptura à vista. Mesmo com esse ambiente quase irreal, o que consegue seu governo? Crescer a uma taxa média de 2,6% ao ano. Ridículo. Fernando Henrique fez várias bobagens em seus oito anos no poder, mas enfrentou um cenário externo adverso na maior parte dos seus dois mandatos. Foi uma verdadeira chuva de pica.
Ao adotar uma política econômica conservadora, Lula evitou apenas uma catástrofe como o calote, o que não era mais do que sua obrigação. Ele não merece elogios por não ter quebrado o país.
A visão de mundo do Guia Genial é tacanha e futebolística. Ele acha que Napoleão foi à China. Ele se orgulha de não ter estudado. Sua incapacidade de decidir é quase folclórica. Demorou meses para fazer reformas ministeriais risíveis. Não quis manter Armínio Fraga no Banco Central (BC) por pura birra. Para substituí-lo, colocou um ex-banqueiro do PSDB que não é especialista em política monetária. Seu ministro da Fazenda defende uma política fiscal ortodoxa, mas sua ministra da Casa Civil quer gastar os tubos. Em vez de decidir por uma ou outra estratégia, ele estimula as divergências entre eles. Quer que os juros caiam mais rápido, mas seu governo não pára de aumentar os gastos públicos. A política externa é ultrapassada. Quer ser o líder dos países pobres, em vez de negociar acordos comerciais com quem realmente interessa, como EUA e União Européia.
Na crise política, foi cínico. Maior símbolo do PT, fingiu que não tinha nada a ver com os escândalos envolvendo o partido. Ele garante que não sabia de nada. Disse que foi traído, mas não disse por quem. Apostou que, com o tempo, a crise perderia a força e a maior parte da população esqueceria as denúncias de corrupção. Como mostram as últimas pesquisas de opinião, parece que Lula estava certo ao subestimar o eleitor.
A Economist diz que Lula tem potencial para ser um dos mais notáveis políticos da América Latina. Acho que só pode ser ironia. Se bem que a concorrência na região é tão fraca que talvez a revista esteja falando sério. Sorte dele. Azar do país



sexta-feira, março 03, 2006

Paga um boquete no pinto do paco II

A estupidez caminha a passos largos, e a transformação do funk em um fenômeno cult é um sintoma claro da debilidade em marcha. Mas talvez eu esteja exagerando. O gosto médio costuma ser sempre ruim, e provavelmente não piorou de uma hora para outra. O que talvez seja a novidade é o acompanhamento acrítico de “manifestações artísticas” como o funk. As reportagens de jornais, revistas e telejornais sobre o assunto tentam apenas retratar a música feita por favelados e faveladas que caiu no gosto da classe média descolada. Em geral, não há nenhum juízo de valor sobre a qualidade do que se analisa (você pode dizer que os repórteres fazem isso porque cabe ao leitor ou ao espectador julgar, mas isso é uma visão ingênua do que é jornalismo).
Parece que é um pecado dizer que as letras são primitivas e de mau gosto e a música é pobre e insuportável. Prevalece, quando muito, uma tentativa “antropológica” de explicar as “raízes do fenômeno”. Mas como levar a sério letras como a que você citou (Paga um boquete, abre as pernas e a gente mete)? A atitude séria em relação ao funk seria mostrar a indigência artística de quem o faz e ridicularizar a classe média moderna que o ouve.
E, antes que digam que tenho birra apenas em relação ao funk, essa atitude também é indicada para reportagens sobre artistas plásticos que fazem instalações com burros ou diretores de teatro que fazem peças com cinco horas de duração. Por isso, eu peço mais opinião e menos “compreensão”. É claro que julgar exige conhecimento e rigor, o que não está ao alcance de todos. Mas a postura de antropólogo dos jornalistas culturais é pior do que um julgamento pouco embasado



quarta-feira, março 01, 2006

Carnavalescas

São Paulo quer que seu carnaval seja levado a sério, mas não pára de dar sinais de que é o túmulo do samba. Como é que uma escola que tem um mestre-sala japonês pode ganhar? Depois de 4.678 reportagens, todo mundo deve ter visto que a Império de Casa Verde tem o simpático japa Tsubasa Miyoshi como mestre-sala. Pelo pouco que vi, ele samba tão bem quanto eu, famoso por ter uma ginga de finlandês

***

Acabei de ver uns trechos da apuração de resultados do carnaval do Rio. Eu fico impressionado com as notas atribuídas pelos jurados, que distribuem a torto e a direito 9,9, 9,8, 9,5. Sim, eu sei que a avaliação de categorias científicas como alegorias e adereços, evolução e harmonia é necessariamente subjetiva e arbitrária, mas a precisão decimal das notas me parece ridícula

***

Hugo Chávez é um sujeito bastante nocivo, mas dessa vez ele foi longe demais. A PDVSA, a Petrobras da Venezuela, deu US$ 1 milhão para a Unidos de Vila Isabel, que teve como enredo a integração latino-americana. Escola de samba é uma das coisas mais chatas do mundo, mas escola de samba que fala da integração latino-americana é insuportável. Os jurados não concordam comigo, tanto que a Vila Isabel foi campeã. O horror, o horror

***

Sabem quem também gostou do enredo da Vila Isabel? Emir Sader, um dos heróis intelectuais do Torre de Marfim. Mais uma vez, eu não resisto em citar um trecho de um artigo escrito por ele, um dos melhores humoristas involuntários da América Latina: "A escolha da Vila Isabel não poderia ser mais feliz, por ser feita no momento em que o nosso continente se revela como o principal cenário de resistência aos modelos exógenos – mais um dos exemplos daqueles 'esquemas alheios' – de que nos fala Garcia Márquez – e que 'só contribui para tornar-nos cada vez mais desconhecidos, cada vez menos livres, cada vez mais solitários'. Aqui Bolívar é reivindicado, como o são Martí, Mariategui e o Che – alguns dos tantos que apontaram para nossa história com fonte direta do nosso destino e dos horizontes da nossa emancipação." Cabra bom, esse Sader!
E parece que ele deu vexame na exposição do Nuno Ramos no Instituto Tomie Ohtake, ao ver a instalação em que três burros circulam entre montes de feno. Sentindo-se à vontade, o nosso intelectual não resistiu a sua iguaria preferida e fez uma boquinha por lá mesmo. Um dos burros protestou: "Dividir o feno com outros dois jumentos eu agüento, mas com o Emir Sader não dá", disse o ofendido animal, que completou: "Só falta o Lula aparecer por aqui"



domingo, fevereiro 26, 2006

Memórias de um não folião

Eu abomino carnaval. A minha idéia de inferno? Ter que assistir eternamente a desfiles de escolas de samba na avenida. Se alguém quiser me torturar e arrancar meus segredos mais íntimos, é fácil. Basta me amarrar e me fazer ouvir por alguns minutos um CD de samba enredo. Depois de umas três daquelas músicas repetitivas e insuportáveis, eu confesso minha participação no esquema do mensalão, reconheço minha culpa na conspiração para matar Kennedy e admito que ajudei nos atentados de 11 de setembro.
Minha aversão pelo carnaval começa pelos carros alegóricos. Onde os comentaristas da Globo vêem beleza e criatividade, eu enxergo apenas mau gosto e breguice. Nada mais kitsch do que a águia da Portela.
Os temas escolhidos pelos carnavalescos são sempre originais e imprevisíveis. Quantas vezes você já viu alguma escola de samba mostrando o sofrimento dos negros no Brasil? As belezas naturais do país também estão sempre lá, assim como homenagens constrangedoras a personagens históricos. Neste ano, duas escolas falam de Santos Dumont. Mas há também as que preferem ousar. Uma escola de São Paulo, por exemplo, decidiu tratar dos 250 anos de nascimento do Mozart. Pobre Wolfgang. Nem Salieri pensaria numa vingança tão horrível.
Mesmo com temas tão diferentes, os desfiles me parecem sempre iguais. Se alguém me mostrar um teipe da Beija Flor de 1977 e um da Portela de 2003, eu não vou notar nenhuma diferença. Eu sempre fui democrático no meu gosto carnavalesco. Torço para que todas as escolas percam, o que, infelizmente, é impossível.
Há uma coisa que me intriga. Os desfiles ocorrem apenas uma vez por ano e as escolas se preparam por vários meses, mas ninguém consegue impedir que muitos carros alegóricos quebrem na avenida. Parece a ala das baianas. Não vale ponto, mas tem que fazer parte do desfile.
Eu também fico emocionado com os motivos pelos quais as escolas escolhem os enredos. No ano passado, a Mangueira falou de energia, um tema com apelo popular, que por acaso contou com patrocínio da Petrobras. Neste ano, uma escola do Rio, que vai tratar da integração latino-americana, recebeu uma graninha da PDVSA, a Petrobras da Venezuela. Eu também acho muito interessante o esquema de financiamento das escolas, que ganham dinheiro público repassado pelas prefeituras – e acho que também pelos governos estaduais – à liga das escolas de samba. Não é bonito o Estado colocar dinheiro em instituições que estão nas mãos de bicheiros e traficantes?
Mas eu não vejo tudo no carnaval com mau humor. As entrevistas com Jamelão, com seus 355 anos, são sempre impagáveis. Algum repórter irá perguntar a ele inevitavelmente como é ser puxador de samba na sua idade, e Jamelão dará uma patada no coitado, dizendo que não é puxador, mas intérprete. Os comentários de Lecy Brandão também são imperdíveis, sempre lembrando a importância da comunidade em cada desfile. E eu também acho maravilhosas as brigas na apuração dos resultados, em que os integrantes das escolas perdedoras choram e tentam agredir os jurados.
Eu sinto falta de apenas uma coisa relacionada aos folguedos momescos: a transmissão dos bailes de carnaval pela Bandeirantes. Na minha adolescência, era uma das poucas oportunidades em que eu podia ver mulher pelada em movimento. A outra era na Sala Especial, da Record. Eu sempre abominei carnaval, mas, quando era adolescente, com hormônios em ebulição, tentava não perder um baile. Os meus amigos, pelo menos, garantiam que eu veria um nível de sacanagem que faria Sodoma e Gomorra parecer recreio do jardim da infância. Vi muita baranga mostrando os peitos e milhares de closes de bundas cheias de celulite, mas nada que se aproximasse dos bacanais vistos – ou inventados – pelos meus colegas.
E eu aproveito o clima nostálgico para fazer uma confissão. No começo da minha adolescência, meu sonho era ir algum dia à Ilha Porchat e participar da Noite nos mares do sul. Para mim, era o máximo de devassidão a que o homem poderia aspirar. Como nunca fui à Ilha Porchat e não conheço ninguém que tenha ido, eu vou morrer sem saber se meus sonhos de luxúria correspondiam à realidade. Paciência!



sábado, fevereiro 25, 2006

Bum bum paticumbum ziriguidum II

Você tem que ver o roubo pelo lado positivo. Em vez de lamentar, pense que esse tipo de crime aproxima o Rio do primeiro mundo. Eu, por exemplo, lembrei imediatamente do roubo dos quadros do Munch num museu de Oslo, ocorrido há vários meses. A Noruega e o Brasil têm pelo menos alguma coisa em comum



quinta-feira, fevereiro 23, 2006

E por falar em suicídio II

Muita gente não gosta de estatística, mas eu adoro. Existe coisa mais eficiente para desmentir o senso comum? Veja o caso cubano, que tem índices de suicídio superiores aos suecos. A nossa esquerda adora vender a idéia de que Cuba é um país alegre, apesar de todas as dificuldades impostas pelo infame bloqueio americano. Os números mostram que não é bem assim. O cubano é o verdadeiro sueco da anedota, sempre pronto a se suicidar. As estatísticas deixam claro: não há cidade mais escandinava na América Latina do que Havana. O jeito alegre e comunicativo do cubano nada mais é do que uma máscara, que esconde na verdade um povo mais angustiado que protagonista de filme do Bergman



quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Patriotismo II

O brasileiro adora manifestar seu patriotismo desdenhando conquistas de outros países. Quando eu estava na faculdade, vi inúmeras vezes alunos e professores mostrarem desprezo pelo padrão de vida de países escandinavos porque o número de suicídios era altíssimo. Eu lembro de uma professora dizer, com ar triunfalista: são países ricos, mas que não resolveram todos os problemas do ser humano. Eu observava às vezes que não está ao alcance de um modelo socioeconômico resolver angústias existenciais, mas é óbvio que eu era visto como um alienado, que defendia países malsucedidos como a Suécia.
Pensando bem, o que é uma renda per capita de US$ 35 mil perto do nosso carnaval? Talvez eu seja muito pessimista e pouco patriota. Por isso, quando achar que o Brasil não tem jeito, eu vou me lembrar da criatividade e alegria que tomam conta do país nos desfiles de escolas de samba, patrocinadas por bicheiros e traficantes, um sinal de que até mesmo criminoso tem responsabilidade social. E, para me sentir superior aos suecos, eu vou imaginar como devem ser caretas os desfiles da Unidos de Estocolmo ou da Acadêmicos de Gotemburgo, com centenas de loiras sem nenhuma ginga se suicidando antes mesmo de atingir a dispersão



sábado, fevereiro 18, 2006

Esses artistas plásticos brasileiros e suas obras de arte maravilhosas


Ninguém com o mínimo de bom senso pode negar que o Brasil tem intelectuais de peso, como Marilena Chauí, Emir Sader e Olavo de Carvalho. Se eles escrevessem numa língua menos desconhecida que a inculta e bela, com certeza teriam reputação internacional. Mas, se nós já tratamos dessas figuras de proa da cultura nacional por aqui, reconheço que temos deixado em segundo plano outros gênios da raça: os artistas plásticos, que tão bem refletem a criatividade do povo brasileiro. Um dos melhores é, sem dúvida, Nuno Ramos.
A Folha de hoje traz uma entrevista com o gênio, que vai ocupar três salas do Instituto Tomie Ohtake com suas obras. Eu não vi, mas já gostei. Uma delas é uma instalação (sim, ele faz instalações), que, segundo a reportagem, consiste num "ambiente no qual três jumentos carregam caixas de som entre recipientes com água e montes de feno e de sal. Ouve-se a música 'Se Todos Fossem Iguais a Você', de Tom e Vinicius."
Perspicaz como poucos, o autor da entrevista não perdeu tempo e logo de cara lançou a pergunta que não podia ficar sem resposta: Como surgiu a idéia de fazer um ambiente usando burros? Nuno não se faz de rogado, e conta tudo: "Esse trabalho, chamado 'Vai, Vai', partiu das caixas de som cobertas por três materiais: sal, água e feno, idéia que vem talvez de um filme que fiz em homenagem a Nelson Cavaquinho, em que caixas de som eram enterradas e postas para tocar sob a terra. A novidade dos burricos é criar um sistema de vivência, com sua duração e literalidade, mas que estivesse pondo materiais e palavras em comunicação. Cada material tem uma voz, e os animais, carregando caixas de som e vivendo dos materiais cujas vozes eles carregam, promovem uma mistura, meio pachorrenta e estranha, entre matéria e sentido."
Observem a genialidade do artista plástico. Para mostrar que não é um homem de certezas absolutas, diz que a idéia talvez tenha nascido de um filme feito por ele. Perceberam? Nem mesmo Nuno sabe de onde veio a inspiração para uma instalação tão brilhante como Vai, vai. Eu só não gostei muito de seu excesso de didatismo. Afinal, eu tenho certeza que qualquer um chegaria sem ajuda à conclusão de que os burros estão lá para promover "uma mistura, meio pachorrenta e estranha, entre matéria e sentido".
Quando li essa resposta, achei que fosse o ponto alto da entrevista. Eu estava enganado. Há outros trechos que merecem no mínimo o mesmo destaque. O interessante é que o entrevistador mostrou estar à altura do entrevistado, como ao perguntar se Nuno "está ficando mais enxuto e econômico formalmente". O artista dá uma resposta não menos genial: "Não sei se enxuto ou econômico, que não são características muito minhas, mas espero que caminhe para algo formalmente mais poderoso. Isso é uma noção que nosso tempo parece ter perdido: a do poder da forma. O vocabulário formal é uma catapulta poderosa que lança a obra para além do controle social. Acho que a gente vive uma época extremamente controladora, e o pior é que aquilo que nos controla tem ótimos valores (ecologia, minorias étnicas etc.). Assim, há muita arte hoje de cabeça baixa, tratando com imediatismo as questões de nosso tempo. O repertório formal, longe de ser alienante, dá fôlego e imensidão ao querer da arte. Não conheço nada mais ambicioso do que as verticais, horizontais e cores puras de Mondrian."
Depois dessa aula de inteligência e brilhantismo, tomei uma decisão: vou ligar para a Sociedade Protetora dos Animais e denunciar o tratamento a que os burros estão sendo submetidos. Carregar peso o dia inteiro tudo bem, mas fazer parte de instalação de artista plástico brasileiro é demais
(Procurei uma foto de um dos burros para ilustrar o post, mas só achei essa daí do Nuno Ramos. Estava em dúvida se publicava ou não, mas percebi que não haveria muita diferença. Espero apenas que os burros não fiquem ofendidos com a comparação)



quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Curling, esporte de multidões

Nos últimos dias, eu vi alguns trechos das competições da Olimpíada de Inverno. Como sempre considerei futebol o único esporte de verdade, consigo, no máximo, achar engraçadinhas algumas das modalidades, e por pouco tempo. Depois de ver uns três minutos de uma corrida de patinação de velocidade, mudo de canal. Mas eu confesso que assisti a algumas coisas esquisitas. As roupinhas dos sujeitos que fazem patinação artística, por exemplo, são meio estranhas. Parece que são um grande sucesso em Brokeback Mountain.
Mas tudo se iluminou depois que eu vi uma competição de curling. É um esporte para poucos, que, mal comparando, lembra a bocha. A Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG) explica que a "versão moderna do jogo originou-se de uma atividade ao ar livre praticada desde o século 16 na Escócia, jogada sobre lagos congelados, e se converteu no esporte altamente técnico atual, jogado em área coberta".
Para quem não viu, o jogo é mais ou menos o seguinte: um sujeito, quase de quatro, lança uma pedra, que tem um cabo parecido com o de um ferro de passar roupa, sobre uma superfície de gelo. Até aí, nada muito esquisito. O melhor vem depois: munidos de vassourinhas, dois sujeitos varrem o gelo freneticamente, para diminuir o atrito e, com isso, tentar conduzir a pedra para perto do alvo. Não há, em toda a história do esporte, uma função mais ridícula do que a do varredor, eu posso lhes garantir.
Segundo a CBDG, "o objetivo do jogo é, após o lançamento de todas as 16 pedras (8 para cada equipe), colocar uma o mais próximo possível do centro da casa, ou alvo, chamado de 'tee'". O site da entidade também informa os participantes chamam o curling de xadrez no gelo, por ser um jogo em que a “estratégia é definitivamente a coisa mais importante”.
Eu achava que o lacrosse era o jogo mais ridículo do mundo, mas nada, nada se compara ao curling. Como é que um esporte em que dois sujeitos ficam varrendo o gelo pode valer medalha olímpica? Se o curling é esporte olímpico, acho que queimada também deveria ser



segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Pain avec merde*

Ouvir funk é o hype do momento nos lugares descolados de São Paulo. Modernos e modernas que moram nos Jardins e provavelmente nunca foram à periferia paulistana dançam ao som da música feita por faveladas cariocas semianalfabetas. Quem sabe isso não é a prova de que a mobilidade social existe no país?
O que mais me emociona no funk é a qualidade das letras. Deize Tigrona é a Elizabeth Bishop brasileira. Eu sempre achei que letra de música não pode ser considerada poesia, mas mudei de idéia depois de ouvir trechos do funk Injeção:

“Injeção dói quando fura
Arranha quando entra
Doutor, assim não dá,
Minha poupança não agüenta

Tá ardendo,
Mas tô agüentando
Arranhando,
Mas tô agüentando”

Em entrevista à Folha, Deize mostra o rico e insuspeito diálogo entre o axé e o funk, que rendeu bons frutos. “Claro que o jeito que as meninas do funk dançam tem a ver com o rebolado da Carla Perez”, explicou ela, que vai fazer temporada em março no Rose Bom Bom, casa noturna paulistana. Tati Quebra Barraco também está sempre em São Paulo. Nos dez primeiros dias de fevereiro, fez oito shows, dos quais seis em São Paulo. Daqui a pouco, vai perder o sotaque carioca.
Um amigo meu dizia que o povo gosta de pão com merda, e de preferência com pouco pão. A frase sempre me pareceu irrefutável. Mas episódios como o sucesso do funk carioca entre os descolados de São Paulo evidenciam que é um erro restringir ao povo o gosto pela iguaria. O pain avec merde tem fãs em todas classes

* Este post se chamava originalmente Pain au merde, o que está errado. Como entendo de francês tanto quanto o Lula de português, eu prometo que não vou mais me meter a fazer gracinhas na língua do Proust, aquele escritor caubói que era piloto de Fórmula 1 e gostava de brigar com o Senna



A insuperável clareza de nossos intelectuais II

Enfiar o Brasil no Haiti foi uma decisão brilhante de política externa. O Haiti é um daqueles casos insolúveis, como se fosse um país africano como Ruanda ou Serra Leoa incrustado na América. A comunidade internacional age como se houvesse a possibilidade de uma solução para os problemas do país, mas, no fundo, todo mundo sabe que não há.
Não, não sou especialista em Haiti, mas não me parece ousadia afirmar que é inviável um país aterrorizado por gangues, em que mais da metade da população sobrevive com menos de US$ 1 por dia, tem 53% de analfabetos e a expectativa de vida é de 52 anos. Para ficar uma merda, o Haiti tem que melhorar muito. A probabilidade de o país dar certo é tão grande quanto a de Lula saber localizar o Haiti no mapa. Em resumo, o Guia Genial nos colocou numa fria. Quanto mais cedo o Brasil saír de lá, melhor.
O mais patético é que o governo topou chefiar a missão por avaliar que isso ajudaria a conseguir uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, entre outros motivos. Como se viu depois, ficou claro que o Brasil não vai ter a vaga - o que até é positivo. Eu nunca entendi as vantagens que o país teria se entrasse no conselho.
Quanto ao texto do Gabeira, a citação do Cazuza é realmente o ponto alto. “O tempo não pára” é uma frase que me lembra a vizinha gorda e patusca do Nelson Rodrigues, sempre dizendo: “Nada como um dia depois do outro”



Autores

* Marcos Matamoros
* F. Arranhaponte


Links

* Alexandre Soares Silva
* Chá das Cinco
* Diacrônico
* Filthy McNasty
* FYI
* JP Coutinho
* Manobra, 1979
* Número 12
* puragoiaba
* Roma Dewey
* Smart Shade of Blue
* Stromboli e Madame Forrester


Posts Anteriores

Homenagem a Catalunha
Desapertem o cinto e salve-se quem puder II
Medo de mulher III
Medo de mulher
Função sexual do teatro IV
Função sexual do teatro II
Minha experiência no mundo do teatro
Elogio ao Guia Genial III
Elogio ao Guia Genial
Soy loco por ti, América


Arquivos

setembro 2005
outubro 2005
novembro 2005
dezembro 2005
janeiro 2006
fevereiro 2006
março 2006
abril 2006


Powered by