quarta-feira, março 01, 2006

Carnavalescas

São Paulo quer que seu carnaval seja levado a sério, mas não pára de dar sinais de que é o túmulo do samba. Como é que uma escola que tem um mestre-sala japonês pode ganhar? Depois de 4.678 reportagens, todo mundo deve ter visto que a Império de Casa Verde tem o simpático japa Tsubasa Miyoshi como mestre-sala. Pelo pouco que vi, ele samba tão bem quanto eu, famoso por ter uma ginga de finlandês

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Acabei de ver uns trechos da apuração de resultados do carnaval do Rio. Eu fico impressionado com as notas atribuídas pelos jurados, que distribuem a torto e a direito 9,9, 9,8, 9,5. Sim, eu sei que a avaliação de categorias científicas como alegorias e adereços, evolução e harmonia é necessariamente subjetiva e arbitrária, mas a precisão decimal das notas me parece ridícula

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Hugo Chávez é um sujeito bastante nocivo, mas dessa vez ele foi longe demais. A PDVSA, a Petrobras da Venezuela, deu US$ 1 milhão para a Unidos de Vila Isabel, que teve como enredo a integração latino-americana. Escola de samba é uma das coisas mais chatas do mundo, mas escola de samba que fala da integração latino-americana é insuportável. Os jurados não concordam comigo, tanto que a Vila Isabel foi campeã. O horror, o horror

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Sabem quem também gostou do enredo da Vila Isabel? Emir Sader, um dos heróis intelectuais do Torre de Marfim. Mais uma vez, eu não resisto em citar um trecho de um artigo escrito por ele, um dos melhores humoristas involuntários da América Latina: "A escolha da Vila Isabel não poderia ser mais feliz, por ser feita no momento em que o nosso continente se revela como o principal cenário de resistência aos modelos exógenos – mais um dos exemplos daqueles 'esquemas alheios' – de que nos fala Garcia Márquez – e que 'só contribui para tornar-nos cada vez mais desconhecidos, cada vez menos livres, cada vez mais solitários'. Aqui Bolívar é reivindicado, como o são Martí, Mariategui e o Che – alguns dos tantos que apontaram para nossa história com fonte direta do nosso destino e dos horizontes da nossa emancipação." Cabra bom, esse Sader!
E parece que ele deu vexame na exposição do Nuno Ramos no Instituto Tomie Ohtake, ao ver a instalação em que três burros circulam entre montes de feno. Sentindo-se à vontade, o nosso intelectual não resistiu a sua iguaria preferida e fez uma boquinha por lá mesmo. Um dos burros protestou: "Dividir o feno com outros dois jumentos eu agüento, mas com o Emir Sader não dá", disse o ofendido animal, que completou: "Só falta o Lula aparecer por aqui"



1 Comments:

  • É a inflação carnavalesca. Tá na hora de subtrair 9, multiplicar por 10 e marcar os pontos como 9, 8, 5. Isto é, se eles fossem realmente importantes...

    Convenhamos, se o Cato Institute oferecer dinheiro à uma escola de samba pra cantar o enredo "Xô, previdência social!" acho que a coisa não daria muito certo. Quem vai querer assistir uma ala inteira de Milton Friedmans?!?

    []s

    By Anonymous Anônimo, at 1:22 AM  


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