quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Diálogo brasileiro V

Eu tive uma rápida experiência como barnabé no começo dos anos 90. Por quatro longos meses, fui auxiliar judiciário, trabalhando no edifício da Justiça Federal de São Paulo na avenida Paulista. Fica ao lado do Masp. Sim, é aquele prédio de concreto com janelas quadradas, que parece um presídio.
Como todos os meus colegas, eu trabalhava pouco - eu também ganhava pouco, mas tinha acabado de entrar, e o cargo exigia apenas o segundo grau. Fiquei lotado no departamento pessoal, até hoje não sei por qual motivo. Logo percebi que a seção funcionaria muito melhor com muito menos gente. A maior parte dos funcionários mostrava um mínimo de dedicação, é verdade, mas ninguém nunca ficava um minuto além do fim do expediente. As pessoas não tinham nenhum ambição. Para que serviria? Promoções vinham com o tempo, e não por mérito. E, cá entre nós, é difícil ter ambição num lugar em que o trabalho é tão estimulante quanto ver um filme iraniano legendado em búlgaro depois de comer uma feijoada.
O trabalho não tinha nenhuma racionalidade. O que em qualquer empresa seria feito em três horas lá demorava três dias. Os funcionários não recebiam nenhum tipo de treinamento. Não havia nenhum método de gestão. Os chefes eram chefes porque tinham entrado antes dos subordinados, e não porque tinham preparo ou vocação para o cargo.
Em um mês, percebi que seria impossível continuar lá por muito tempo, ou eu morreria de tédio. Quando apareceu uma oportunidade na iniciativa privada, pedi demissão. Profissionalmente, foi a decisão mais certa que eu tomei na minha vida



1 Comments:

  • Tudo já foi explicado no filme piegas de sessão da tarde "Harold and Maude" (do qual tenho preguiça em descobrir como um funcionário público preguiçoso decidiu chamá-lo em português):

    "Don't get officious. You're not yourself when you're officious - That is the curse of a government job."

    Nada pior do que alguém lazy e officious.

    []s

    By Anonymous Anônimo, at 5:52 PM  


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