Fanatismo nunca mais ou em busca da fatwa III
Esse episódio mostra a intolerância e a incapacidade de aceitar outros pontos de vista que caracterizam boa parte dos muçulmanos. Nem o mais tarado anti-bushista poderá dizer que a reação insana dos islâmicos às caricaturas de Maomé é uma resposta à política americana para o Oriente Médio.
As ameaças de morte aos autores das charges e os incêndios nas embaixadas da Dinamarca e da Noruega na Síria são um exemplo claro de uma visão de mundo medieval. Isso já havia ficado claro com o caso Salman Rushdie. O autor dos Versos Satânicos não foi morto, mas um dos tradutores de seu livro foi assassinado. Aliás, o partido libanês Hezbollah declarou que, se Rushdie tivesse sido eliminado há 17 anos, o caso das charges não estaria ocorrendo. Bonito, não? E é bom lembrar que a fatwa foi decretada pelo aiatolá Khomeini, o então líder espiritual e político do Irã. Não me consta que algum líder político ou religioso ocidental tenha pedido a eliminação de Godard por ter dirigido Je vous salue Marie, ou de Saramago por ter escrito O evangelho segundo Jesus Cristo.
Em países em que há separação entre igreja e Estado, a reação a algo que uma religião considera blasfêmia não toma as proporções ridículas que a crise das charges começa a assumir. A política de Bush, em especial a invasão do Iraque, me parece equivocada, mas também é um equívoco não ver os perigos que a intolerância muçulmana impõe a países que prezam valores como o respeito aos direitos humanos e a liberdade de expressão. O caso das charges de Maomé, a fatwa decretada contra Salman Rushdie e o assassinato do cineasta holandês Theo Van Gogh são sinais que não devem ser ignorados.
Nos EUA, na América Latina e na Europa, há protestos contra a política americana para o Iraque, provas claras de que, na maior parte desses lugares, o direito à divergência existe e é respeitado. Curiosamente, nunca vi manifestações em países muçulmanos condenando os métodos terroristas da Al Qaeda ou a tática suicida dos homens-bomba palestinos. É possível que os governos islâmicos impeçam esse tipo de manifestação. Mas desconfio que, mesmo se elas não fossem reprimidas, não haveria quórum suficiente para encher um fusca com muçulmanos dispostos a protestar contra o radicalismo assassino de pessoas que consideram natural matar inocentes em arranha-céus em Manhattan ou num ônibus em Tel-aviv.
Não, eu não sei qual deve ser a resposta do Ocidente ao radicalismo muçulmano. Mas acho fundamental que as pessoas comecem a perceber que a intolerância islâmica não é nada inofensiva. Considerar esse radicalismo e a intolerância como valores culturais que devem ser “respeitados e compreendidos” pode custar caro a quem saiu da Idade Média há vários séculos
As ameaças de morte aos autores das charges e os incêndios nas embaixadas da Dinamarca e da Noruega na Síria são um exemplo claro de uma visão de mundo medieval. Isso já havia ficado claro com o caso Salman Rushdie. O autor dos Versos Satânicos não foi morto, mas um dos tradutores de seu livro foi assassinado. Aliás, o partido libanês Hezbollah declarou que, se Rushdie tivesse sido eliminado há 17 anos, o caso das charges não estaria ocorrendo. Bonito, não? E é bom lembrar que a fatwa foi decretada pelo aiatolá Khomeini, o então líder espiritual e político do Irã. Não me consta que algum líder político ou religioso ocidental tenha pedido a eliminação de Godard por ter dirigido Je vous salue Marie, ou de Saramago por ter escrito O evangelho segundo Jesus Cristo.
Em países em que há separação entre igreja e Estado, a reação a algo que uma religião considera blasfêmia não toma as proporções ridículas que a crise das charges começa a assumir. A política de Bush, em especial a invasão do Iraque, me parece equivocada, mas também é um equívoco não ver os perigos que a intolerância muçulmana impõe a países que prezam valores como o respeito aos direitos humanos e a liberdade de expressão. O caso das charges de Maomé, a fatwa decretada contra Salman Rushdie e o assassinato do cineasta holandês Theo Van Gogh são sinais que não devem ser ignorados.
Nos EUA, na América Latina e na Europa, há protestos contra a política americana para o Iraque, provas claras de que, na maior parte desses lugares, o direito à divergência existe e é respeitado. Curiosamente, nunca vi manifestações em países muçulmanos condenando os métodos terroristas da Al Qaeda ou a tática suicida dos homens-bomba palestinos. É possível que os governos islâmicos impeçam esse tipo de manifestação. Mas desconfio que, mesmo se elas não fossem reprimidas, não haveria quórum suficiente para encher um fusca com muçulmanos dispostos a protestar contra o radicalismo assassino de pessoas que consideram natural matar inocentes em arranha-céus em Manhattan ou num ônibus em Tel-aviv.
Não, eu não sei qual deve ser a resposta do Ocidente ao radicalismo muçulmano. Mas acho fundamental que as pessoas comecem a perceber que a intolerância islâmica não é nada inofensiva. Considerar esse radicalismo e a intolerância como valores culturais que devem ser “respeitados e compreendidos” pode custar caro a quem saiu da Idade Média há vários séculos
2 Comments:
"Nem o mais tarado anti-bushista poderá dizer que a reação insana dos islâmicos às caricaturas de Maomé é uma resposta à política americana para o Oriente Médio"
É óbvio que as coisas estão interligadas!!! Eles não conseguem não interligar a ocupação do Iraque do ocidente, assim como não conseguimos não interligar islamismo com terrorismo. Não é uma resposta à política americana, mas à cultura ocidental de uma maneira geral. A reiteração das charges em nome da "liberdade de expressão" (uma instituição que só nós sabemos valorizar) pra eles não passa de provocação escancarada, pura, simples e gratuita, a prova do nosso profundo desprezo por todos eles e aquilo que eles mais valorizam. Estamos virando uma coisa só pra eles, uma ameaça infiel, assim como eles estão virando uma coisa só pra nós: terroristas extremistas. Isso vai ainda acabar mal.
By Anônimo, at 2:43 PM
Veja, não sou contra a liberdade de expressão. Nem sou a favor do Estado intervir nessa questão instituindo alguma espécie de censura. Tampouco a favor de incendiar embaixadas. Mas critico, sim, as atitudes que soam nada mais que provocativas em nome de algo que eles não entendem. Se quer falar o que quer, vai ter que encarar o rojão. veja, estou considerando o contexto atual, potencialmente explosivo. Pois assim cometemos o mesmo erro deles: julgamos donos de valores universais e superiores. Como vamos justificar que ofender os muçulmanos é um direito universal e deve ser feito a esmo apenas pra reiterar esse direito. Não vai fazer sentido na cabeça deles. Vão achar que estamos querendo briga mesmo. E é isso que muitos ocidentais querem mesmo. É assim que começa o fim do mundo.
By Anônimo, at 3:57 PM
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