U2 no país do jeitinho
Eu desisti de ir ao show do U2 devido ao preço do ingresso. Acho ridículo pagar R$ 200 para ficar na pista num estádio. No começo, praguejei contra a ganância dos organizadores. Depois de ler um pouco a respeito, vi que a coisa não é bem assim. No domingo, a Folha publicou uma reportagem em que empresários da área de shows, cinema e teatro dizem que os preços dos ingressos subiram acima da inflação nos últimos anos em grande parte devido ao aumento da venda de meia-entrada para quem tem carteirinha de estudante.
O presidente do Cinemark diz que há semanas em que 85% dos ingressos são vendidos pela metade do preço. Ok, sei que o sujeito pode estar exagerando nesses números, mas é fato que há muita gente usando carteirinhas falsificadas. Eu conheço várias pessoas que não estudam há anos, ganham bem e mesmo assim têm o documento. Nos últimos dois anos, perdi a conta de quantas vezes me ofereceram carteirinhas falsas.
Há outro ponto que dá alguma verossimilhança às reclamações dos empresários. Em janeiro de 1998, o U2 fez shows no Brasil, também no Morumbi. Paguei exatos R$ 50 por um ingresso na pista. Como a entrada para o show do mês que vem custa R$ 200, o aumento foi de 300%. Entre 1998 e 2005, o IPC da Fipe subiu 58%. Por mais ambiciosos que sejam os empresários atuais, difícil acreditar que apenas a ganância explique um reajuste tão acima da inflação. É verdade que o cachê do U2 pode ter aumentado de lá para cá, assim como custos de infra-estrutura, mas acho que uma parte razoável (que eu obviamente não sei calcular) dessa diferença se deve à farra das carteirinhas.
O curioso é que as pessoas que usam os documentos falsificados não acham que fazem algo condenável - falo das que eu conheço, obviamente. É um caso típico do “jeitinho” que parece inofensivo, mas que começa a assumir proporções razoáveis, a ponto de encarecer grotescamente o preço do ingresso para quem não se dispõe a usar desse tipo de expediente. Enfim, um delito menor que não é tão pequeno quanto parece à primeira vista. Ou estou exagerando?
PS: Acho que está claro, mas não custa avisar. Não estou defendendo os empresários que organizam o show deste ano e não conseguem nem vender ingressos caríssimos de modo civilizado
O presidente do Cinemark diz que há semanas em que 85% dos ingressos são vendidos pela metade do preço. Ok, sei que o sujeito pode estar exagerando nesses números, mas é fato que há muita gente usando carteirinhas falsificadas. Eu conheço várias pessoas que não estudam há anos, ganham bem e mesmo assim têm o documento. Nos últimos dois anos, perdi a conta de quantas vezes me ofereceram carteirinhas falsas.
Há outro ponto que dá alguma verossimilhança às reclamações dos empresários. Em janeiro de 1998, o U2 fez shows no Brasil, também no Morumbi. Paguei exatos R$ 50 por um ingresso na pista. Como a entrada para o show do mês que vem custa R$ 200, o aumento foi de 300%. Entre 1998 e 2005, o IPC da Fipe subiu 58%. Por mais ambiciosos que sejam os empresários atuais, difícil acreditar que apenas a ganância explique um reajuste tão acima da inflação. É verdade que o cachê do U2 pode ter aumentado de lá para cá, assim como custos de infra-estrutura, mas acho que uma parte razoável (que eu obviamente não sei calcular) dessa diferença se deve à farra das carteirinhas.
O curioso é que as pessoas que usam os documentos falsificados não acham que fazem algo condenável - falo das que eu conheço, obviamente. É um caso típico do “jeitinho” que parece inofensivo, mas que começa a assumir proporções razoáveis, a ponto de encarecer grotescamente o preço do ingresso para quem não se dispõe a usar desse tipo de expediente. Enfim, um delito menor que não é tão pequeno quanto parece à primeira vista. Ou estou exagerando?
PS: Acho que está claro, mas não custa avisar. Não estou defendendo os empresários que organizam o show deste ano e não conseguem nem vender ingressos caríssimos de modo civilizado
3 Comments:
Vocês têm razão: brasileiro não saca nada de matemática. Se o ingresso custava R$ 50, a meia-entrada custava, obviamente, R$ 25. Se, digamos, 85% dos ingressos vendidos são meia-entradas, o preço médio de cada ingresso vendido fica em torno de R$ 33,75. Com o ingresso a R$ 200 e seguindo a mesma idéia inicial, temos que o preço médio do ingresso deve ficar em R$ 135,00. Apenas (!!) 170% de aumento em relação ao preço original de R$ 50,00. Muito acima da inflação de 58% mesmo com a choradeira da meia-entrada.
By Anônimo, at 9:37 AM
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
By Marcos Matamoros, at 1:06 PM
Caro outro Edson,
Eu não fiz essa conta básica que você fez, que realmente sugere que o aumento foi exagerado. Mas, de qualquer modo, o impacto do aumento do número de ingressos vendidos pela metade do preço não me parece desprezível. Além disso, no meu post eu provavelmente subestimei o fator mais óbvio que explica a elevação dos preços de ingressos em shows de artistas internacionais desde 1999: a desvalorização do câmbio. Em janeiro de 1998, o dólar valia um pouco mais do que R$ 1. Vamos supor que fosse R$ 1,10. Hoje, está na casa de R$ 2,30, uma variação de 109% em relação a 1998. Com isso, mesmo que o cachê do U2 em dólares seja o mesmo de 1998 (e ele pode ter aumentado), o valor em reais subiu muito. Acho que esse deve ser o maior custo de um show com artistas gringos, não? Outras despesas em dólares, como o custo das passagens aéreas e do transporte dos equipamentos, também cresceram. Mais uma diferença: quem vai abrir o show do U2 no Brasil deve ser o Franz Ferdinand, uma banda estrangeira que está fazendo muito sucesso. Em 1998, isso coube ao Gabriel, o pensador, que com certeza recebe um cachê bem menor. Incluindo nessa conta a inflação de 1998 até 2006 e a farra das carteirinhas, acho que a ganância dos empresários do atual show é menor que a incompetência deles em conseguir organizar a venda das entradas
Um abraço,
Marcos
By Marcos Matamoros, at 3:02 PM
Postar um comentário
<< Home