terça-feira, fevereiro 07, 2006

Fanatismo nunca mais ou em busca da fatwa V

Em todo essa confusão, eu não vi nenhuma manifestação de intolerância por parte dos muçulmanos brasileiros. Entre os grandes jornais do país, pelo menos a Folha publicou algumas das charges de Maomé e, se não estou enganado, ninguém ameaçou os editores de morte. A sede do Torre de Marfim também não recebeu nenhuma carta ameaçadora depois de nós termos publicado as caricaturas. Isso é bom, mas não deixa de ser um pouco estranho. Imaginei duas hipóteses para explicar a atitude cordata da comunidade islâmica que vive no país:
1. O Brasil é uma sociedade tolerante, o que estimula até mesmo pessoas supostamente radicais a ter um comportamento tolerante
2. O Brasil é o país da avacalhação, e até o islamismo é avacalhado por aqui
Depois de pensar dois segundos sobre o tema, descartei a primeira hipótese. É claro que a segunda é a verdadeira. Quem diria que a nossa vocação para avacalhar tudo e todos teria um efeito positivo?



5 Comments:

  • Queridos senhores matamoros e arranhaponte!
    Interessante a cruzada que tem se travado por aqui durantes os últimos dias.
    A liberdade de expressao que com certeza forma a essencia da questao, tem sido tratada por aqui repetidamente juntamente com os supostos limites que a ela deveriam ser impostos, quando o respeito religioso parece fazer-se mais forte que qualquer manifestacao crítica.
    Hoje o senhor Matamoros comenta a nao manifestacao de muculmanos brasileiros. Isso nao é vantagem nossa. Por aqui, um dos países com maior concentracao islamica da europa (lembrem-se que o número de turcos que vivem na alemanha, formaria a segunda maior cidade depois em território turco depois de Istambul), nao houve uma só demonstracao de indignacao relacionadas as charges. O domingo dinamarquês foi marcado por demonstracoes com milhares nas ruas, tanto dinarmarqueses cristaos quanto mulcumanos a pedido de tolerancia.
    Acho que a nao manifestacao nao tem muito a ver com a sentido de avacalhacao. Está muito mais ancorada no bom senso.
    Acredito que a midia - a principal atingida na história toda - esteja se preocupando por demais com a questao da liberdade de imprensa. A liberdade de imprensao nao precisa ser discutida, há quase dois séculos isso fazia sentido, hoje em nossas sociedades tao influenciadas pelo “fazer de conte que”, travar uma discussao em torno disso me soa um tanto anacrônico. Vivemos em democracias, ponto. Nao há censura, ponto. O leitor que se sentir desrespeitado, que nao leia mais o jornal, que nao visite mais a página de internet. Nao creio haver razao alguma para que alguém se desculpe. O ministro das relacoes exteriores dinamarques nao deve de forma alguma cair nessa armadilha. O que muitos nao veem, até mesmo na Europa, é o tamanho e a profundidade da questao.
    A maioria que saiu às ruas e destruiu embaixadas nao teve contato com as charges. Pouco sabem o que elas diziam. A nao intervencao da policia a essas atitudes de vandalismo também demonstra um certo consenso por parte do governo, de que a destruicao de representantes do inimigo é legítima. Muitos dizem por aqui que algumas das manifestacoes foram organizadas pelo próprio governo.
    A liberdade de imprensa nesse episódio me parece ser só um grao de areia no deserto de problemas que o mundo islamico representa para a Europa. O que dizer da eleicao do Hamas na Palestina? O que dizer da destruicao de centros culturais alemaes em países que recebem milhoes de Berlim? Tento nao me tornar reacionária e implicante, mas até que ponto devemos tolerar o que nao tolera?

    Nao lhes parece que a questao se se deve ou nao publicar chages num jornal - levando em consideracao que um dos ingredientes de uma charge é sempre o sacarsmo - tem desfocado um pouco nossa visao?

    By Blogger Edo, at 1:41 PM  


  • Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    By Blogger Marcos Matamoros, at 2:00 PM  


  • Menina,
    O seu comentário foi muito interessante. Acho que o ponto fundamental da questão é o que você apontou: até que ponto devemos tolerar quem não tolera? No caso das caricaturas, me parece que é crucial não pedir desculpas e não transigir. Se nós começarmos a ceder, os muçulmanos radicais vão se sentir à vontade para tentar nos impor sua visão de mundo tacanha e intolerante

    By Blogger Marcos Matamoros, at 2:04 PM  


  • Me darei a liberdade de publicar meu comentário no meu blog. Vou também citar os senhores. Espero que nao se importem.

    By Blogger Edo, at 5:38 PM  


  • Não sei se perceberam, mas essa manifestação violenta não se apóia apenas no problema das charges, ela é a resultante de uma série de fatores antigos e outros mais recentes, nem preciso citar quais. As charges foram um pretexto inequivoco para que se explodisse um descontentamento latente na população em relação às intervenções ocidentais naquela região. Não são os extremistas terroristas que estão nas ruas botando fogo, são pessoas normalmente moderadas, trabalhadores, estudantes... Os muçulmanos brasileiros, assim como todos os muçulmanos, com certeza se sentiram ofendidos com a "provocação" dos jornais Europeus. Não é difícil compreender isso, né? Mas os muçulmanos brasileiros não estão imersos no caldeirão fervente de conflitos que é aquela região. É preciso compreender isso.

    Repito: nós ficarmos nos apoiando no princípio da liberdade de expressão para se justificar pouco contribui para o dialogo. Primeiro porque não estamos lidando com um problema "interno", não estamos falando do Papa, dos nazistas, do Bush, estamos lidando com outra civilização, que possui seus valores próprios dos quais eles tem tanto ou mais orgulho do que nós temos da nossa "liberdade de expressão". Ou só nos podemos bater no peito e ter orgulho? Pois eles tem bem mais e estão dispostos a matar e morrer por esses valores, assim como alguns ocidentais estão dispostos a matar e morrer pela causa da liberdade (quem disse mesmo aquela frase?). Se somos intransigentes em relação à liberdade, eles tbm são em relação à sua fé.
    Por que os jornais fizeram questão de republicar as charges que sabiam ofender não só uma minoria, mas uma civilizão inteira? Porque a acharam tão engraçadas e bem desenhadas que mereciam um replay? Porque sobrou um espaço que tinha de ser preenchido? Porque achavam a mensagem contidas nelas relevantes e de interesse coletivo? Não, foi pura e simplesmente em nome da "liberdade de expressão". Me pergunto porque em nome da liberdade de expressão ninguém sai na rua com uma suastica, nenhum palmeirense invade a torcida do corinthians pra chama-los de bandidos, nenhuma revista ocidental teve a coragem de por na sua capa uma imagem de jesus comendo a propria mãe? Não tem o que discutir, quer queira ou não, essa republicação foi um despeito só, celebramos nosso orgulho soltando fogos de artificio na cara deles, assim como Sharon foi "apenas" passear na esplanada das mesquitas logo depois dos Israelenses terem matados vários inocentes ali. Enfim, foi a gota d´água.

    By Anonymous Anônimo, at 6:05 PM  


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