sexta-feira, março 03, 2006

Paga um boquete no pinto do paco II

A estupidez caminha a passos largos, e a transformação do funk em um fenômeno cult é um sintoma claro da debilidade em marcha. Mas talvez eu esteja exagerando. O gosto médio costuma ser sempre ruim, e provavelmente não piorou de uma hora para outra. O que talvez seja a novidade é o acompanhamento acrítico de “manifestações artísticas” como o funk. As reportagens de jornais, revistas e telejornais sobre o assunto tentam apenas retratar a música feita por favelados e faveladas que caiu no gosto da classe média descolada. Em geral, não há nenhum juízo de valor sobre a qualidade do que se analisa (você pode dizer que os repórteres fazem isso porque cabe ao leitor ou ao espectador julgar, mas isso é uma visão ingênua do que é jornalismo).
Parece que é um pecado dizer que as letras são primitivas e de mau gosto e a música é pobre e insuportável. Prevalece, quando muito, uma tentativa “antropológica” de explicar as “raízes do fenômeno”. Mas como levar a sério letras como a que você citou (Paga um boquete, abre as pernas e a gente mete)? A atitude séria em relação ao funk seria mostrar a indigência artística de quem o faz e ridicularizar a classe média moderna que o ouve.
E, antes que digam que tenho birra apenas em relação ao funk, essa atitude também é indicada para reportagens sobre artistas plásticos que fazem instalações com burros ou diretores de teatro que fazem peças com cinco horas de duração. Por isso, eu peço mais opinião e menos “compreensão”. É claro que julgar exige conhecimento e rigor, o que não está ao alcance de todos. Mas a postura de antropólogo dos jornalistas culturais é pior do que um julgamento pouco embasado



3 Comments:

  • Não se acanhe. Há tempos que digo que o rap é a pior coisa que saiu do cenário musical americano. Um gênero que deu ao mundo Vanilla Ice e Kid Rock não pode ser perdoado.

    []s

    By Anonymous Anônimo, at 11:37 PM  


  • Senhor Matamoros, com todo respeito...
    Nao acha que a analise de um fenomeno cultural (como toda as conceituacoes e besteiras que ela acarreta) está bem longe de poder oferecer um juízo de valor?

    Analises sao analises, juizoes de valor sao juízos de valor...

    Ah como eu gosto da identidade tautológica!

    By Blogger Edo, at 11:42 AM  


  • Menina,
    Acho que por meio de uma análise é possível fazer um juízo de valor, ou embutir um juízo de valor na análise. O que me irrita são análises sérias, densas e respeitosas de fenômenos que não merecem respeito, como o funk

    By Blogger Marcos Matamoros, at 6:06 PM  


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