domingo, março 05, 2006

Metamorfoses ambulantes e generalizadas II

A Economist tocou apenas de passagem no ponto central: Lula é sortudo. Poucas vezes na história do país houve um presidente com tanta sorte. É quase inacreditável como o cenário externo tem sido favorável desde que o Guia Genial assumiu. Há dinheiro sobrando no mercado internacional para países emergentes. Os preços do petróleo batem em US$ 70 o barril e não há crise. A economia americana tem um déficit externo de US$ 800 bilhões por ano, mas não há sinal de ruptura à vista. Mesmo com esse ambiente quase irreal, o que consegue seu governo? Crescer a uma taxa média de 2,6% ao ano. Ridículo. Fernando Henrique fez várias bobagens em seus oito anos no poder, mas enfrentou um cenário externo adverso na maior parte dos seus dois mandatos. Foi uma verdadeira chuva de pica.
Ao adotar uma política econômica conservadora, Lula evitou apenas uma catástrofe como o calote, o que não era mais do que sua obrigação. Ele não merece elogios por não ter quebrado o país.
A visão de mundo do Guia Genial é tacanha e futebolística. Ele acha que Napoleão foi à China. Ele se orgulha de não ter estudado. Sua incapacidade de decidir é quase folclórica. Demorou meses para fazer reformas ministeriais risíveis. Não quis manter Armínio Fraga no Banco Central (BC) por pura birra. Para substituí-lo, colocou um ex-banqueiro do PSDB que não é especialista em política monetária. Seu ministro da Fazenda defende uma política fiscal ortodoxa, mas sua ministra da Casa Civil quer gastar os tubos. Em vez de decidir por uma ou outra estratégia, ele estimula as divergências entre eles. Quer que os juros caiam mais rápido, mas seu governo não pára de aumentar os gastos públicos. A política externa é ultrapassada. Quer ser o líder dos países pobres, em vez de negociar acordos comerciais com quem realmente interessa, como EUA e União Européia.
Na crise política, foi cínico. Maior símbolo do PT, fingiu que não tinha nada a ver com os escândalos envolvendo o partido. Ele garante que não sabia de nada. Disse que foi traído, mas não disse por quem. Apostou que, com o tempo, a crise perderia a força e a maior parte da população esqueceria as denúncias de corrupção. Como mostram as últimas pesquisas de opinião, parece que Lula estava certo ao subestimar o eleitor.
A Economist diz que Lula tem potencial para ser um dos mais notáveis políticos da América Latina. Acho que só pode ser ironia. Se bem que a concorrência na região é tão fraca que talvez a revista esteja falando sério. Sorte dele. Azar do país



2 Comments:

  • Gostaria de saber como o eleitor do Lula consegue acreditar que o maior beneficiado de um esquema de roubo e compra de votos poderia não saber de tudo o que estava acontecendo. Lula é uma tragédia que está para se repetir, infelizmente.

    By Blogger Cabelo, at 5:23 PM  


  • Cabelo,
    Para a versão do Lula ter credibilidade, ele teria que ser inimputável. De qualquer modo, votar num sujeito inepto me parece tão ruim quanto votar num mentiroso
    Um abraço,
    Marcos

    By Blogger Marcos Matamoros, at 7:47 PM  


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