domingo, janeiro 29, 2006

Lula e La Rochefoucauld

Lula pode ter perdido a aura de salvador da pátria há um bom tempo, mas ninguém lhe tira o posto de rei da gafe. A capacidade do Guia Genial de falar a coisa errada no momento errado é impressionante. A mais nova bola fora ocorreu na inauguração do memorial do Curíntia, seu time de coração.
No seu discurso, Lula disse que a maior decepção que o Corinthians lhe causou foi a derrota para o Palmeiras na partida da semifinal da Libertadores em 2000, na disputa por pênaltis. Olhando para Marcelinho Carioca (que estava na festa como um dos heróis do Corinthians), Lula disparou: "Marcelinho, você não sabe o quanto você me fez sofrer quando perdeu aquele pênalti contra o Palmeiras. Aquela foi a única vez nos meus 60 anos de vida que eu achei que teria um infarto". Como seria de se se esperar, todo mundo ficou constrangido.
Ou seja, aos 60 anos, o Guia Genial mostra mais uma vez que ainda não sabe como se comportar em público. Tsc, tsc. Mas nem tudo está perdido. Eu confio na capacidade de aprendizado de Lula.
Uma maneira de mostrar ao Guia Genial que não se deve dizer em público tudo o que vem à cabeça é agir como ele agiu em relação a Marcelinho. No próximo evento em que Lula estiver presente, basta que alguém interrompa um discurso e diga para ele, com um ar de reprovação afetuosa: "Presidente, o sr. não sabe como me fez sofrer quando disse que Napoleão foi à China”, ou “O sr. não sabe a vergonha que me faz passar quando afirma que sua mãe nasceu analfabeta”, ou “Eu não sabia onde enfiar a cara quando o sr. declarou que a galega engravidou no primeiro dia, porque pernambucano não deixa por menos” ou ainda “Eu realmente acho fim da picada quando o sr. diz que não sabia de nada sobre a corrupção em seu governo.”
Eu tenho a impressão de que o Guia Genial não iria gostar. Acho que isso deve ser suficiente para ele perceber que não pode falar o que quiser em público. Para reforçar a lição, eu indicaria a Lula a leitura de um aforismo (calma, não estou pedindo que ele leia um livro, mas apenas uma linha) de La Rochefoucauld: “Hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude”. Se ele não entender a sutileza, não há problema. Há uma frase mais popular, embora menos elegante, que tem o mesmo espírito do aforismo do escritor francês: sinceridade demais é sempre uma merda



quinta-feira, janeiro 26, 2006

Duelo de titãs

Eu critiquei uma reportagem da Globo News no post abaixo, mas não me entendam mal: acho que a televisão oferece recompensas para quem sabe procurá-las. Nem sempre é uma missão fácil, mas ontem à noite ocorreu comigo. Zappeador frenético, fui brindado pelo acaso ao sintonizar na TV Gazeta. No ar, o programa Todo Seu, um talk show comandado por Ronnie Von. Até aí, nada demais. Todo Seu é um programa diário. Ronnie Von é um apresentador único, mas o que tornou mágica a noite de ontem foram seus convidados: Chiquinho Scarpa e Tom Zé, uma combinação esdrúxula à primeira vista, mas que mostrou raro entrosamento no ar.
O visual de Chiquinho Scarpa merece uma descrição detalhada. O tempo não passa para o playboy. Com cabelo acaju, pele esticada e forte maquiagem, o homem que já disse ter um escravo no Marrocos parece atualmente um boneco de cera, transformado por dezenas de plásticas e uso industrial de botox. Chiquinho Scarpa emite o som de uma risada, mas seu rosto demora alguns segundos até exibir um esgar que lembre um sorriso.
Tom Zé não fica atrás. A diferença é que o gênio da MPB tem um estilo mais despojado. Em cima de uma camiseta preta, enverga uma camisa jeans amassada, com uma aba do colarinho para fora e outra para dentro. Para quem ainda tem dificuldade em visualizar o look do músico tropicalista, é só pensar num garrafeiro ou num mendigo - para ser mais exato, num garrafeiro mendigo. Mas Tom Zé não é imune à vaidade: ele também pinta o cabelo, ou pelo menos a iluminação do programa provocou esse efeito nas melenas do baiano ressuscitado por David Byrne.
Depois de alguns minutos juntos, Chiquinho Scarpa e Tom Zé mostram a intimidade de velhos amigos. No aniversário da cidade, conversam animadamente sobre São Paulo. Citam seus restaurantes e lugares preferidos. Chiquinho Scarpa fala no La Tambouille e no Fasano; Tom Zé lembra do Arabesco, restaurante árabe nas Perdizes, perto casa onde morava Haroldo de Campos. Chiquinho Scarpa, concretista de primeira hora, sorri com ar de aprovação. Em tom confessional, Tom Zé diz que vai contar um “fracasso”: ele costuma comprar frango por lá, mas o leva para comer em casa, com “seu arroz”.
A conversa segue animada. Ronnie Von pergunta quais são os espaços abertos mais bonitos de São Paulo. Chiquinho Scarpa cita o Parque do Ibirapuera. Tom Zé é menos óbvio. Diz que quando os estudantes da PUC invadem a reitoria, eles não consideram a ocupação completa enquanto ele, Tom Zé, não aparece (eu não entendi a conexão entre uma coisa e outra - a sutileza deve ter me escapado). E o que isso tem a ver com espaços abertos? Ele se apressa em esclarecer: lá dentro, entre muros enormes, há um jardim de inverno lindo. Não sei se isso se encaixa na definição de lugar aberto, mas Tom Zé não está aí para ser um homem convencional.
O programa caminha para o fim. Ronnie Von cumprimenta mais uma vez São Paulo, mas assume um ar indignado ao dizer que sua equipe foi impedida de fazer uma filmagem em frente ao Museu do Ipiranga. Chiquinho Scarpa diz que é um absurdo. Tom Zé não diz nada, mas seu rosto mostra que ele se solidariza com a violência infligida a Ronnie Von.
Para terminar, Tom Zé toma o violão e, com sua linda voz esganiçada, canta uma música parecida com as marchinhas do Juca Chaves.
Quem disse que não há vida inteligente na televisão?

PS: Um pequeno trecho da biografia de Ronnie Von, que aparece no site do programa: “O que pensar de uma criança que tem como sonho 'um cachorro azul'? Coisas de um Pequeno Príncipe, que acredita que pode transformar o mundo em algo muito melhor. E o fez, através de sua música, do seu jeito de garoto bem comportado, mais tarde como homem bem sucedido, pai extremoso, chefe de família e dono de casa”. Não é bonito?



terça-feira, janeiro 24, 2006

Os mistérios da fé

Eu tenho a impressão de que, no Brasil, todo mundo acredita em alguma coisa. Pelas minhas estimativas, o país tem uns cinco agnósticos (entre os quais me incluo) e uns dois ateus. Os outros 179.999.993 brasileiros têm alguma religião ou no mínimo acreditam numa “força superior”. Há muita gente que pratica várias religiões ao mesmo tempo – quem não tem uma tia ou um conhecido que vai ao centro espírita na quarta-feira, ao terreiro no sábado e à missa no domingo? Até aí, tudo bem. É bonito que haja liberdade religiosa no país. Cada um acredita no que quiser e tem a religião que quiser, embora eu ache que um pouco de ceticismo não faria mal ao país – pelo contrário.
O que me incomoda é quando essa religiosidade se intromete onde não devia, o que está longe de ser algo esporádico por aqui. Dou um exemplo de uma reportagem que vi na Globo News há alguns dias. Ao falar dos três segredos de Fátima, o repórter não teve dúvidas: disse que, em 1917, em Fátima, Nossa Senhora “apareceu” para os três pastores portugueses. Não disse “teria aparecido”. Tratou o episódio como fato histórico, sem questionar em nenhum momento a suposta aparição.
Eu já vi isso ocorrer em outras oportunidades, em especial na televisão. Não, não vejo nenhuma conspiração católica por trás disso; a questão é falta de rigor do repórter. O problema é que o sujeito desavisado que assistiu à reportagem foi dormir com a certeza de que Nossa Senhora apareceu realmente para os três murruguinhas.
De minha parte, eu nunca acreditei na história. A escolha de Nossa Senhora sempre me pareceu pouco inteligente. Ou você acha apropriado revelar segredos importantes para três crianças que viviam no interior de Portugal no começo do século passado?



segunda-feira, janeiro 23, 2006

Viva o povo latino-americano!

Eu adoro os intelectuais brasileiros. Se eu estou sem assunto, não fico mais angustiado. Basta esperar o artigo de algum dos gênios que ocupam nossas universidades. Emir Sader é um dos melhores. Por algum motivo obscuro, ele consegue emplacar artigos com regularidade na Folha, e não apenas na Agência Carta Maior (um tipo de Mídia sem Máscara de esquerda). Na edição de ontem da Folha, há um texto de Sader intitulado “Viva o povo latino-americano!” - assim mesmo, com ponto de exclamação. O tema do artigo é a suposta guinada da América Latina para a esquerda, com direito a elogios encomiásticos ao companheiro Evo Morales, como seria de se esperar.
Mas a melhor parte não são os elogios ao chefe dos cocaleiros. O trecho que mudou meu modo de ver a região está logo no primeiro parágrafo: “O povo da América Latina e do Caribe foi vítima, nas quatro últimas décadas, de duas violentas ofensivas contra seus direitos, sua identidade e sua própria existência como povo. A primeira foi a das ditaduras militares, concentradas mais ao Sul do continente, mas com distintas expressões em outras regiões da América Latina e do Caribe. A segunda foi a dos governos neoliberais - que se estenderam por praticamente todo o continente -, ofensiva não menos violenta e destrutiva que a primeira.”
Eu juro que não tinha reparado que a ofensiva dos governos “neoliberais” foi tão violenta e destrutiva como a das ditaduras militares. Eu devo ser muito desinformado. Sempre vi grandes diferenças entre o governo de Fernando Henrique e o de Médici, por exemplo. Achava que o primeiro não mandava torturar e matar opositores, e nem impedia a liberdade de expressão. Mas Sader deve saber mais do que eu. Quem é fã de carteirinha de Cuba, nunca mencionando o fato de o país ser uma ditadura, merece respeito e tem credibilidade, não é mesmo?



sexta-feira, janeiro 20, 2006

Com brasileiro, não há quem possa

A Copa de 2006 está no papo. Parreira anunciou que está lendo A arte da guerra e, como fez Felipão em 2002, deve usar trechos do livro para motivar os jogadores. Acho que não tem como dar errado. Você tem alguma dúvida de que Ronaldo fez oito gols na Copa anterior porque obedeceu às recomendações de Sun Tzu? De onde você acha que Ronaldinho Gaúcho tirou inspiração para encobrir o goleiro da Inglaterra, ao cobrar aquela falta no comecinho do segundo tempo? É claro que estava pensando em frases do livro como: “Defendemo-nos quando nossa força é insuficiente; atacamos quando ela é sobeja”.
Imagino como o futebol de Robinho vai melhorar ainda mais após ler que “os oficiais pouco afeitos ao treinamento rigoroso mostrar-se-ão preocupados e hesitantes na batalha; os generais mal-adestrados sentir-se-ão intimidados quando arrostarem o inimigo”. Eu tenho certeza de que Robinho, com sua habilidade, vai driblar as mesóclises sem grandes problemas e arrostar os adversários que aparecerem pela frente. Com uma mãozinha do livro chinês transformado em guia de auto-ajuda, ninguém tira o hexa do Brasil, mesmo que Ronaldinho Gaúcho fique no banco a Copa inteira



quarta-feira, janeiro 18, 2006

U2 no país do jeitinho III

A questão é que eu sou patologicamente honesto, um verdadeiro Robespierre tropical. Isso impede que eu me locuplete mesmo quando trombo com oportunidades aparentemente irrecusáveis - como falsificar carteirinha de estudante



U2 no país do jeitinho

Eu desisti de ir ao show do U2 devido ao preço do ingresso. Acho ridículo pagar R$ 200 para ficar na pista num estádio. No começo, praguejei contra a ganância dos organizadores. Depois de ler um pouco a respeito, vi que a coisa não é bem assim. No domingo, a Folha publicou uma reportagem em que empresários da área de shows, cinema e teatro dizem que os preços dos ingressos subiram acima da inflação nos últimos anos em grande parte devido ao aumento da venda de meia-entrada para quem tem carteirinha de estudante.
O presidente do Cinemark diz que há semanas em que 85% dos ingressos são vendidos pela metade do preço. Ok, sei que o sujeito pode estar exagerando nesses números, mas é fato que há muita gente usando carteirinhas falsificadas. Eu conheço várias pessoas que não estudam há anos, ganham bem e mesmo assim têm o documento. Nos últimos dois anos, perdi a conta de quantas vezes me ofereceram carteirinhas falsas.
Há outro ponto que dá alguma verossimilhança às reclamações dos empresários. Em janeiro de 1998, o U2 fez shows no Brasil, também no Morumbi. Paguei exatos R$ 50 por um ingresso na pista. Como a entrada para o show do mês que vem custa R$ 200, o aumento foi de 300%. Entre 1998 e 2005, o IPC da Fipe subiu 58%. Por mais ambiciosos que sejam os empresários atuais, difícil acreditar que apenas a ganância explique um reajuste tão acima da inflação. É verdade que o cachê do U2 pode ter aumentado de lá para cá, assim como custos de infra-estrutura, mas acho que uma parte razoável (que eu obviamente não sei calcular) dessa diferença se deve à farra das carteirinhas.
O curioso é que as pessoas que usam os documentos falsificados não acham que fazem algo condenável - falo das que eu conheço, obviamente. É um caso típico do “jeitinho” que parece inofensivo, mas que começa a assumir proporções razoáveis, a ponto de encarecer grotescamente o preço do ingresso para quem não se dispõe a usar desse tipo de expediente. Enfim, um delito menor que não é tão pequeno quanto parece à primeira vista. Ou estou exagerando?

PS: Acho que está claro, mas não custa avisar. Não estou defendendo os empresários que organizam o show deste ano e não conseguem nem vender ingressos caríssimos de modo civilizado



Mania de grandeza II

É a famosa síndrome de Manrique, o poeta espanhol do século 15, autor do verso que se tornou o lema dos saudosistas: "Cualquiere tiempo pasado fue mejor"



terça-feira, janeiro 17, 2006

Ao mestre, com carinho III

Matemática não é o forte do brasileiro. Nossos estudantes se saem bem mesmo é em testes que avaliam a capacidade de interpretação de textos. Ressalto aqui o resultado do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgado em dezembro de 2000. O Brasil ficou em 32.º lugar num teste em que participaram estudantes de 15 anos de 32 países (os 29 da OCDE mais Brasil, Rússia e Letônia). Na época, Paulo Renato Souza, que ocupava o ministério da Educação, disse que o “nosso desempenho não foi trágico”, o que levou o dr. Pangloss a lhe recomendar moderação no otimismo.
Alguns detalhes sobre o Pisa mostram que a situação dos estudantes brasileiros não é realmente das mais brilhantes. Segundo um artigo do jornalista Gilmar Piolla, o teste divide o desempenho médio dos alunos em cinco níveis de proficiência, e o Brasil foi o único a ficar no nível 1. Para piorar, 23% dos brasileiros não conseguiram nem atingir esse nível, que inclui os estudantes com dificuldade para completar tarefas simples de leitura, como localizar uma informação ou identificar o tema principal de um texto - mais ou menos o que ocorre com o Lula.
Mas talvez eu esteja sendo muito pessimista. Um outro professor da ECA, o Joaquim, quase tão sábio como Sansão, dizia sempre: “Ainda bem que existem problemas, porque, sem eles, não existiriam soluções”. Nem Poliana faria melhor

PS: Eu sei que é difícil acreditar, mas esse mestre é português



quinta-feira, janeiro 12, 2006

Ao mestre, com carinho

Há exatos 17 anos, eu entrei na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Não posso negar que estava empolgado. Eu acreditava que, na média, os professores seriam razoáveis, e que uma meia dúzia de três ou quatro seria brilhante. Se o sujeito dá aula na USP, pelo menos uma anta não deve ser, pensava o ingênuo Matamoros. Mas, como sabem todos os que passaram pela ECA, a realidade é um pouco diferente. Com boa vontade, eu diria que a média dos professores era ruim. Boa parte era péssima mesmo.
Mas havia algumas exceções. Neste post marcado pela nostalgia, vou evocar a lembrança de um deles, um verdadeiro intelectual, que ensinou quase tudo o que eu sei: o professor Sansão, sósia do cantor Ovelha. O visual já impunha respeito, deixando claro que estávamos diante de um homem com uma mente privilegiada. Além da cabeleira loura, o mestre também chamava atenção por usar chapéu de safári e camisas parecidas com as do Magnum.
Pode parecer fútil descrever o visual do professor, mas eu gostaria de lembrar que a forma é indissociável do conteúdo. Sansão era um intelectual, e eu ousaria dizer que era um intelectual iluminista. Em suas aulas, discorria com naturalidade sobre qualquer assunto.
Literatura, por exemplo, era um tema que Sansão dominava profundamente. Uma de suas alunas queria fazer uma entrevista com o escritor de “O alquimista”, no ano em que o livro estourou. Mostrando conhecer como poucos a literatura brasileira, Sansão fulminou sua discípula: “Mas como? ‘O alquimista’ não é um livro do Machado de Assis?” A estudante, como não podia deixar de ser, ficou sem ação diante de tanta sabedoria.
O mestre também dominava a literatura inglesa. Em uma aula memorável, recomendou a todos o livro “Furo”, da “escritora” Evelyn Waugh. Em outra de suas palestras, discorrendo sobre distopias, fez uma percuciente análise de 1984, referindo-se várias vezes “ao livro do Orson Welles”.
Mas Sansão não se limitava a ser um pensador. Não, ele também era um homem com conhecimento prático, que sabia como funcionava o mercado de trabalho. Para evitar que subestimássemos essa sua faceta, ele nos advertiu várias vezes: “Não quero que vocês pensem que o Sansão – ele gostava de falar de si mesmo na terceira pessoa – é um mero intelectual”.
Sansão conhecia tão bem a língua que desafiava as convenções gramaticais. Uma de suas marcas registradas era o uso subversivo do subjuntivo. Era difícil uma aula em que não se ouvissem termos como “seje”, “teje” e “veje”.
Eu não sei o que faz hoje da vida o professor Sansão, mas tenho certeza de apenas uma coisa: onde quer que ele esteja, está disseminando conhecimento e transpirando cultura. Quem o teve como mestre não esquece

PS: Todas essas histórias são verdadeiras. Eu não inventei nada



terça-feira, janeiro 10, 2006

Evo Morales, o homem, o mito

Evo Morales mostra a cada dia que é um líder à altura da Bolívia. Todos os artigos e reportagens que leio sobre ele me fazem pensar na capacidade invejável dos latino-americanos de escolher a dedo seus governantes. Logo que Morales foi eleito, li um perfil com algumas de suas frases, em que se destacava a seguinte jóia: “Tenho orgulho de não ter diploma”, uma manifestação de desprezo pela educação formal que provavelmente envergonharia até o Guia Genial.
Depois da vitória, Morales saiu em viagem pelo mundo, fazendo paradas estratégicas no país do amigo do Quico, em Cuba e na China. Por lá, mostrou todas as suas credenciais democráticas, ao dizer que a China é um aliado programático e ideológico da Bolívia. Para completar, pediu ajuda ao camarada Hu Jintao para “lutar pela justiça”. O companheiro Hu, que comanda uma ditadura que tortura e mata seus opositores, certamente terá muito a contribuir na luta por um mundo melhor e mais justo.
Mas o que mais me chama atenção em Morales é seu visual: mesmo depois de eleito, continua a se vestir como vendedor de loja de eletrodomésticos, mesmo em suas viagens pelo mundo. Isso ajuda a melhorar ainda mais a bonita imagem de seu país no exterior. É ou não é um homem à altura do desafio de governar um país como a Bolívia?



quinta-feira, janeiro 05, 2006

Life, the universe and everything III

É uma boa idéia. Acho que você deve apresentar a sugestão para a Maria Fernanda Cândido, que é do Conselho Diretor da Casa do Saber. Talvez ela pergunte se neoliberalismo é de comer, mas eu tenho certeza de que pelo menos você vai achar as negociações agradáveis.
Eu continuo maravilhado com os cursos oferecidos pela Casa do Saber. Adorei o “Obras-primas da pintura”. Em dez aulas de duas horas cada uma, por apenas R$ 800, o professor Leandro Karnal “pretende analisar dez obras-primas da arte ocidental a partir do universo histórico, estabelecendo diálogos entre cultura, arte e sociedade”. Até aí, tudo bem. O que me chamou a atenção é que, junto com a Monalisa, de Leonardo Da Vinci, As meninas, de Velázquez, e Guernica, de Picasso, está o Abaporu, de Tarsila do Amaral.
Para fazer uma comparação futebolística, ao estilo do Guia Genial: colocar um quadro de Tarsila ao lado das pinturas de Leonardo, Velázquez e Picasso é o mesmo que comparar o Íbis de Pernambuco com o Santos de Pelé, o Real Madrid de Di Stéfano e a seleção brasileira de 70



terça-feira, janeiro 03, 2006

Life, the universe and everything

Os cursos da Casa do Saber estão fazendo sucesso em São Paulo. De tanto ouvir falar, eu fui atrás do que oferece a Daslusp. Gostei especialmente de alguns cursos que tratam de temas pouco ambiciosos. O professor Clóvis de Barros Filho, por exemplo, falará das “Grandes questões da humanidade”. Em 10 aulas de duas horas cada uma, “o professor examinará, do ponto de vista filosófico, alguns dos grandes temas que permeiam a reflexão dos homens há séculos. Dentre eles, Deus, ética, morte, felicidade e liberdade serão debatidos em encontros temáticos.” O site da Casa do Saber não diz, mas há rumores de que, na última aula, ele revelará o sentido da vida aos felizardos que pagarem R$ 800 pelo privilégio de ouvi-lo. Pela importância dos assuntos, acho pouco.
Outro curso interessante é “O candomblé”, que tem como professor ninguém menos que Nizan Guanaes. “Um apaixonado pelo tema discorre sobre o candomblé e seu lugar de maior expressão, a Bahia; literatura, costumes e a singularidade da cultura brasileira são temas do bate-papo com o publicitário baiano”, informa a Daslusp. Nizan, que sabe de tudo um pouco, mostra que também é especialista em religiões afrobrasileiras. Saravá! Ah, os dois encontros com o publicitário saem por R$ 200.
Mas talvez meu curso preferido seja “A era Bush”. Quem tiver R$ 320 ouvirá Sérgio Dávila falar em quatro aulas sobre assuntos como “a eleição, a reeleição e a implantação da doutrina Bush” e também sobre “a guerra ao terror, a guinada à direita religiosa, a política fiscal, o dólar fraco e o boom imobiliário”. Não contente com isso, Dávila também vai comentar as guerras do Afeganistão e do Iraque e pontificar sobre as perspectivas para o Irã, a Síria e a Coréia do Norte. Eu tenho certeza de que Dávila, que tem um blog sobre cinema e cultura pop, domina profundamente esses temas.
Com esses cursos da Casa do Saber, fica claro que hoje só é ignorante quem quer



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* Marcos Matamoros
* F. Arranhaponte


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