domingo, dezembro 18, 2005

Jurassic Park

No Brasil, morto não tem defeito. O sujeito morre ao meio-dia e às seis da tarde é canonizado. Em algumas ocasiões, esse processo é ainda mais rápido. Veja o caso de Oscar Niemeyer. As reportagens sobre seu 2.000.º aniversário mostram que ele já foi alçado à condição de semideus, embora, ao que tudo indica, continue vivo. Os jornais informaram que ele ainda trabalha todos os dias (mesmo tendo nascido no Cenozóico), e não pouparam elogios a sua “genialidade”. O mais divertido é que os textos não lembraram em nenhuma oportunidade que um dos maiores culpados por Brasília é fã de carteirinha de Stálin. Como já virou santo, Niemeyer só tem qualidades. A Folha o entrevistou, mas a repórter não fez nenhuma pergunta sobre o tema (para que deixar o vovô contrariado?) E Niemeyer não é um stalinista envergonhado. Não, ele faz questão de alardear sua coerência política.
No ano passado, em artigo para a Folha, ele atacou Kruschev, porque, “ambicioso, voltado para o poder, elaborou o lamentável relatório contra Stálin”.
O mais emocionante é que há quem goste de suas posições políticas. Cony escreveu em agosto que “ficou difícil encontrar um comunista por nossas bandas, com exceção (aliás honrosa e comovente) do Oscar Niemeyer, que é homem de caráter e coragem”. O que há de honroso e comovente em idolatrar um genocida? Eu vejo um exemplo de caráter e coragem parecido apenas no apoio dado em 1945 por Luiz Carlos Prestes a Vargas, que havia deportado Olga Benário (mulher de Prestes) para a Alemanha nazista nos anos 30



Autores

* Marcos Matamoros
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