segunda-feira, abril 24, 2006

Homenagem a Catalunha

Os prédios de Gaudí sao lindos e sempre surpreendentes. Miró era um grande pintor. Barcelona é uma cidade pulsante. Mas tudo isso você já sabe porque conhece Barcelona ou porque leu sobre a cidade. Eu nao vou ficar chovendo no molhado. Em vez de dizer como a arquitetura de Gaudí é brilhante - e eu acho que realmente é -, vou contar aos nossos 3,5 leitores o que notei de diferente em Barcelona desta vez.
1. Além de ter uma sonoridade parecida com o português de Portugal, o catalao tambem mostra uma semelhanca improvável com o mussumês. Sim, eu me refiro ao dialeto criado pelo Mussum. Tudo o que eu leio em catalao me lembra o homem que descobriu o forévis. Eu saio na rua e me deparo com palavras como tabacs, estudis, calçats, socis. E se em vez de ter sido um homem de poucas letras o falecido parceiro do Didi foi alfabetizado em catalao? Isso talvez explique seu modo particular de pronunciar as palavras. Eu sei que é improvável, mas me seduz a idéia de um Mussum filho de um catalao comunista exilado no Brasil com uma negra brasileira.
2. O mullet faz um sucesso danado por aqui. Barcelona parece uma sucursal capilar de Buenos Aires. Quase todos os homens cultivam um cabelo comprido. Muito em voga também o visual Chitaozinho, para homens e mulheres.
3. As catalas nao sao especialmente bonitas nem especialmente feias, mas todas sao peruas. Boa parte das mulheres é adepta do visual puta involuntária: mini-saia curta, botas longas e pintura pesada, mesmo antes do almoço.
4. Os barceloneses sabem andar de metrô. Para mim, esse é um dos indicadores mais importantes de civilidade de um povo. Antes de tentar entrar no trem, as pessoas esperam calmamente a saída de quem está dentro do vagao. Em Sao Paulo, o metro existe há mais de 20 anos, mas o paulistano ainda nao aprendeu a fazer isso. Quando a porta se abre na estaçao da Sé, é um salve-se quem puder
PS: Escrevi em um teclado em que nao há til



sexta-feira, abril 21, 2006

Desapertem o cinto e salve-se quem puder II

O Oswaldo Montenegro é um caso curioso. Ele canta mal, compõe mal, se veste mal, tem um cabelo alisado por obra de uma escova ou chapinha, mas mantém uma legião de fãs. Por que alguém gosta do Oswaldo Montenegro? O sucesso dele é um mistério. Eu nunca cheguei à conclusão de quem é pior: se ele, Guilherme Arantes ou Gonzaguinha. Acho que o Gonzaguinha lidera na disputa pelo pior verso da MPB de todos os tempos: “a gente não está com a bunda exposta na janela para passar a mão nela”. Tem algum pior?



quinta-feira, abril 20, 2006

Medo de mulher III

É fácil. São lésbicas que não têm coragem de sair do armário no mundo muçulmano. Elas se matam na expectativa de que haja 72 virgens à sua espera. Mas parece que o Alcorão não é claro sobre esse ponto



Medo de mulher

Leio que o Irã teria um exército de homens-bomba para atacar alvos ocidentais caso o país seja bombardeado. Haveria 40 mil voluntários treinados para a nobre missão de matar inocentes. O número diz muito sobre a qualidade de vida no Irã.
Muita gente vê o homem-bomba como um fanático que se sacrifica por uma causa. De algum modo, o suicida seria um idealista. Que nada. Não há nada de idealista num sujeito que se mata acreditando que há 72 virgens à sua espera no Paraíso. O terrorista islâmico age movido por interesse próprio. É coisa de punheteiro que tem medo de mulher. Só alguém que não tem a mínima experiência acha que sexo com virgem é algo divino. Como disse Salman Rushdie, “os homens islâmicos morrem de medo de mulher, têm pavor da liberdade sexual das mulheres.” De fundamentalismo islâmico Salman Rushdie entende



segunda-feira, abril 17, 2006

Função sexual do teatro IV

Mas calma. Para compensar o fato de o Antunes ser um homme à femmes, nós temos o Zé Celso, que namora um ator de seu grupo. O Gerald Thomas, por sua vez, joga nos dois times. Traça todas as atrizes com quem trabalha, mas já disse, nesta entrevista ao Nomínimo, que o Hélio Oiticica o “comeu para caralho” quando ele tinha 13 anos. Mas ele não ficou daquele jeito por causa disso. Segundo Gerald, o relacionamento com o Hélio Oiticica não só não o perturbou como “quebrou um preconceito logo de cara e não tinha problema nenhum”. Não é bonito?



Função sexual do teatro II

Nem todos os diretores brasileiros são viados. O Antunes Filho, por incrível que pareça, tem fama de comedor



Minha experiência no mundo do teatro

Ao mencionar Gerald Thomas num post abaixo, eu me lembrei de que já fui namorado de atriz. Foi um período curioso. Eu rapidamente aprendi que gente de teatro não diz peça. O certo é espetáculo, mesmo que seja algo montado num espaço imundo, com atores de quinta categoria encenando um texto experimental de um dramaturgo desconhecido do interior do Piauí.
Eu gosto de teatro, antes que me entendam mal. Vi bons espetáculos com a minha ex-namorada. Mas a verdade é que assisti a coisas horrorosas. Talvez a pior de todas tenha sido Freud Anna, um espetáculo dançante sem diálogos baseado na relação entre o velho Sigmund e sua filha. Juro que não estou inventando. Tentei dormir, mas a música não deixou.
Foi nessa época que vi uma peça do Zé Celso (eu sei, eu sei, mas foi só uma vez) - Mistério Gozoso, de Oswald de Andrade. Poucas vezes assisti a algo tão amador. Os atores mal sabiam falar. E foi no Teatro Oficina, um dos piores espaços cênicos já construídos pelo ser humano. A encenação ocorre num corredor, e o público fica sentado nas laterais, como se estivesse numa arquibancada de campo de várzea. A grande virtude é que o espetáculo só tinha uma hora e meia, e não as cinco horas habituais das peças do diretor dionisíaco.
O pior eram as peças amadoras dos amigos dela, quase sempre experimentais. No começo, eu ficava encabulado, principalmente quando queriam saber o que eu tinha achado. Mas tudo ficou mais fácil quando o namorado de uma outra atriz me ensinou uma estratégia infalível: “Quando pedirem sua opinião, é fácil. Diga sempre: no gênero, nunca vi nada igual.” Grande frase: deixava o interlocutor feliz e não me obrigava a mentir. Afinal, que outra resposta melhor eu poderia dar para uma adaptação de Dom Casmurro com todo mundo nu? Para um Édipo Rei sem diálogos, usando a linguagem de quadrinhos? E para uma versão de Hamlet com o príncipe interpretado por um travesti? No gênero, nunca vi nada igual



quarta-feira, abril 12, 2006

Elogio ao Guia Genial III

Além de o salvamento da Varig ser um assalto aos cofres públicos, há outros motivos para condenar o resgate da empresa. Um deles - talvez o mais nobre - é que o Gerald Thomas é a favor. Ele organizou uma manifestação em que vários artistas brasileiros pediram que o governo ajude a companhia quebrada. Dessa vez, Gerald não mostrou a bunda, mas teve mais um chilique. “Quando o Lula fala que é a falência de uma companhia, ele está decretando a falência do próprio Brasil. Ele está decretando uma auto-falência. Lula, aqui para você”, disse o gênio, mostrando o dedo médio. Além de Gerald Thomas, participaram do protesto atores como Marco Nanini, Irene Ravache e Marieta Severo, a jogadora de vôlei Virna e o coreógrafo Carlinhos de Jesus. Fiquei curioso para saber a opinião da Virna e do Carlinhos de Jesus sobre o assunto, mas os jornais não os entrevistaram a respeito.
Mas por que tanta solidariedade à empresa? O blog de Gerald deixa claro os motivos da comunidade artística brasileira, sem nenhum subterfúgio: “Convoco todos os artistas (atores, atrizes, comediantes, bandas de rock, country e o diabo) que ‘mamaram’ na Varig por anos a fio através de patrocinio direto ou através de apoio que SE MANIFESTEM AGORA!!!! Nao sejam covardes! Agora é a hora! RETRIBUAM!”
Elementar, caro leitor: o que move os artistas é o medo de perder uma boquinha. Eis mais um motivo para torcer pelo fim da Varig. Quem sabe assim fica mais difícil para o Gerald Thomas montar suas peças?

PS: Eu vou confessar uma coisa: torço para que a crise da Varig chegue ao fim não tanto por acreditar que o governo não deve salvar empresa falida, mas principalmente porque o assunto sairia mais rapidamente do noticiário. A crise da Varig é o terceiro assunto mais chato de todos os tempos. Perde apenas para o caso Opportunity-Daniel Dantas-Brasil Telecom-fundos de pensão-Telecom Itália, que vem em segundo lugar, e para o descruzamento das participações acionárias da Vale do Rio Doce e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), o líder do ranking



Elogio ao Guia Genial

Eu estou emocionado. Lula está muito próximo de dar uma dentro. “Não é papel do governo salvar empresa falida”, disse ontem o Guia Genial, ao comentar os problemas da Varig. Capitalismo é assim. A empresa não consegue andar com as próprias pernas? Que arrume uma solução de mercado. A lei de falências está aí para permitir uma recuperação das companhias que quebraram. Pode ser que o governo dê para trás, mas, até o momento, parece que não haverá injeção de dinheiro público numa empresa que deve R$ 8 bilhões. Não ajudar a Varig será uma das maiores realizações de Lula, o que dá uma idéia do nível do governo



sábado, abril 08, 2006

Soy loco por ti, América

A América Latina não consegue resistir ao ridículo. A bola da vez é o Peru. O nacionalista Ollanta Humala deve vencer o primeiro turno das eleições presidenciais marcadas para amanhã. Amigo de Chávez, tem idéias modernas, como fica claro na entrevista concedida à revista alemã Der Spiegel e publicada ontem no Estado. Além de repetir palavras de ordem contra o neoliberalismo que talvez constrangessem os integrantes da UNE, Humala mostra que se prepara para conduzir o Peru ao século XIX: "Nós somos as vítimas de um capitalismo descontrolado. A concorrência das multinacionais está destruindo nossas indústrias, explorando nossos recursos e nos forçando a ser uma economia de exportação". Humala pode fazer um grupo de estudos com Chávez e Evo Morales para discutir As veias abertas da América Latina. Se já tiverem lançado uma versão ilustrada do livro, Lula também pode participar.
Mas o principal mesmo é o nome do sujeito. Como alguém pode votar em alguém que se chama Ollanta Humala? Para ficar ainda mais grotesco, um de seus irmãos atende por Antauro. Como disse o poeta chileno Hernando Persona: "todos os países da América Latina são ridículos. Não seriam países da América Latina se não fossem ridículos"



sexta-feira, abril 07, 2006

Miolo mole e crime II

Eu vou discorrer sobre o óbvio, porque a obviedade parece inacessível à maior parte dos brasileiros quando se trata de discutir a criminalidade.
Vamos supor que a desigualdade social seja realmente a principal causa do problema.
Vamos supor também que o Brasil comece a reduzir com muita rapidez a desigualdade social, encurtando fortemente a distância entre ricos e pobres.
Mas, mesmo nesse cenário otimista - e improvável -, o país vai demorar muito para atingir um quadro razoável em termos de desigualdade, já que, como até o asfalto da Vieira Souto sabe, o Brasil é muito desigual.
A conclusão óbvia? Enquanto nós não nos tornamos um país nórdico em distribuição de renda, é necessário combater os outros fatores que provocam a criminalidade. Tornar mais severas as punições para crimes hediondos é uma delas - e o Supremo Tribunal (STF) fez o oposto há algumas semanas, ao considerar inconstitucional que o condenado por esses crimes tenha que cumprir toda a pena em regime fechado. Atacar as outras causas do problema não é achar que ele não é complexo; é apenas não adotar a estratégia do miolo mole, como definiu o Arranhaponte. Mas, em vez de fazer óbvio, a gente não faz nada



terça-feira, abril 04, 2006

Pagando mico no espaço

Toda essa história do astronauta brasileiro me parece bastante ridícula. E, depois de descobrir que uma das experiências a serem realizadas pelo nosso herói é a germinação de sementes de feijão num ambiente sem gravidade, tudo ficou ainda mais grotesco. Será que ele colocou o feijão em cima de um algodãozinho molhado? É cretino, mas eu imagino o astronauta usando um daqueles conjuntos infantis tipo O pequeno químico para fazer experiências sofisticadas como o sangue do diabo. Brasileiro paga mico até no espaço.
E a missão me lembra aquelas piadas infames - além do brasileiro, há um americano e um russo. Eu já imaginei o começo da piada, aliás. Falta apenas o desfecho – ou seja, tudo: “Numa nave espacial, estão um astronauta brasileiro, um americano e um russo. A nave sofre uma pane, e dois astronautas terão que ser sacrificados para que a missão seja terminada. Os três chegam a um acordo: quem tiver o presidente mais esperto, se salva”. Putin, Bush e Lula me parecem talhados para fazer parte de uma piada. O diabo é que não consegui pensar num final, por mais infame que seja. Alguém tem alguma idéia?

PS: Quanto à importância da missão, assino embaixo o que escreveu o astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão: “O vôo de Marcos Pontes é uma grande jogada eleitoreira do governo. Ela não irá contribuir em nada para reafirmar o programa espacial brasileiro. Pontes poderia ir ao espaço em 2009, de graça, sem pagar os US$ 10 milhões, se o Brasil tivesse cumprido o acordo de construir algumas peças para a ISS. É mais importante cumprir essa tarefa do que enviar um brasileiro ao espaço, pois ela irá gerar um desenvolvimento tecnológico no Brasil. Muito mais importante é destinar recursos para tornar realidade nosso programa espacial. Há mais de 10 anos, o nosso veículo lançador de satélites, o VLS, está sofrendo uma 'sabotagem governamental', pois as verbas foram reduzidas no fim do governo Sarney, que estabeleceu o acordo de colaboração espacial durante visita à China".



domingo, abril 02, 2006

Demagogia incompetente

As propostas da esquerda no Brasil são sempre divertidas. Na semana passada, PSOL e PSTU realizaram um encontro para discutir, vá lá, idéias. Eu só li a reportagem da Folha sobre o seminário hoje, reproduzida pelo FYI. Algumas das propostas são brilhantes. Uma das mais inteligentes é pedir que sejam classificados como crimes hediondos os assassinatos de pais e mães de santo que ocorrem pelo país. Outras idéias visam melhorar a educação no Brasil: adotar o estudo obrigatório da história da África e da cultura do povo afrodescendente no ensino fundamental e o fim do ensino pago.
Uma das que mais me chamaram a atenção foi o aumento do salário mínimo para R$ 1,6 mil. Eu gostei principalmente por mostrar a mediocridade dos esquerdinhas radicais. Todo mundo que não é débil mental sabe que é inviável um salário mínimo desse valor, porque a Previdência e os Estados e prefeituras pobres quebrariam. Se a idéia é sugerir um valor absurdo, por que R$ 1,6 mil, um salário meia boca? Inviável por inviável, por que não propor R$ 10 mil, R$ 20 mil ou R$ 30 mil? Mas não. A mediocridade não deixa. A esquerda é incompetente até mesmo para fazer demagogia



Autores

* Marcos Matamoros
* F. Arranhaponte


Links

* Alexandre Soares Silva
* Chá das Cinco
* Diacrônico
* Filthy McNasty
* FYI
* JP Coutinho
* Manobra, 1979
* Número 12
* puragoiaba
* Roma Dewey
* Smart Shade of Blue
* Stromboli e Madame Forrester


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