Previsões IV
Muitos intelectuais não resistem ao flerte do abismo. É um impulso irresistível. Um problema é que grandes colapsos são raros. O Brasil, por exemplo, tem insistido em crescer a taxas medíocres nos últimos anos, sem, no entanto, passar por recessões brutais. É um problema crescer a uma média pouco superior a 2% ao ano, claro, mas parece melhor do que o PIB cair 20% em quatro anos, como ocorreu com a Argentina. Com isso, aumenta o ressentimento e a raiva de quem previu o caos. Em alguns casos, o catastrofista dobra a aposta. Sua irritação fica ainda maior quando surgem números que contrariam suas teses. Um crescimento um pouco maior aqui, um aumento do número de matrículas ali, nada disso pode ser comemorado. A impressão é que o sujeito fica irritado com o avanço; o país tinha que caminhar para o buraco, e não melhorar. Veja o caso do grande economista Márcio Pochmann, da Unicamp. Ao avaliar a posição do Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, em que o país aparece em 63.º lugar, ele faz ponderações supostamente inteligentes, em entrevista à Agência Globo. Ele diz que o IDH se mostra, cada vez mais, insuficiente e inadequado para medir o desenvolvimento humano de um país. O indicador não mede, por exemplo, a violência e o desemprego. Segundo Pochmann, um índice de exclusão social "feito pela Unicamp em 2002 mostra o Brasil na 109.ª posição entre 175 países observados". Como o IDH indica que o país melhorou um pouco em plena vigência de políticas neoliberais, ele não teve dúvidas. Sacou do coldre um indicador "feito pela Unicamp" para evidenciar que tudo continua péssimo
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