Zuenirismo e seus descontentes IV
Em São Paulo, a esquerda festiva - o zuenirismo não me parece outra coisa - não tem essa sede de integração social, eu me arriscaria a dizer. Se no Rio a festa na Mangueira atrai o escritor revelação, o cantor de MPB e o ator da Globo para o morro, por aqui a elite não mostra o mesmo interesse em se misturar com o cantor de hip hop do Capão Redondo. Quem vai à Vila Madalena pode até achar bonito a idéia de confraternizar com o sambista e o traficante, mas não está disposto a colocá-la em prática. A única celebridade paulista que eu me lembro de ter freqüentado a favela foi o seu ídolo Eduardo Suplicy, o forrest gump do Congresso, o inimputável dos Jardins, o dr. Pangloss tropical. Há alguns anos, ele foi dormir umas noites em Heliópolis, no que não foi acompanhado pela ex-mulher Marta Suplicy - e não acho que seja possível culpá-la por essa decisão, que me pareceu sábia. Eu havia dito que não havia um zuenir paulista, mas, pensando bem, Suplicy talvez seja exatamente isso. Quem dorme na favela e no acampamento dos sem terra no fundo está buscando essa integração que não integra, não? Sua defesa dos seqüestradores de Abílio Diniz também me cheira a zuenirismo. Mas Suplicy pode ser divertido. Ou não é engraçado um sujeito cantar Blowin' in the wind na tribuna do senado, com voz sofrível e em inglês ruim? Será que cada cidade tem o zuenir que merece?
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